OSADULTOSCOMAUTISMO 41
desata a suar, com os nervos. Por fim, as palavras
irrompem: “Eu. Hã. Eu... gosto da maneira como
os teus brincos brilham contra a tua pele pálida.”
“Poético!”, exclama o treinador. “Mas, por en-
quanto, queremos evitar referências a cor de pele,
raça, religião ou etnia. Percebes?” O homem, de
pele castanha, concordou, acenando com a cabe-
ça, e tomou nota. Contudo, mostrou-se ansioso
por explicar. “Se ela for muito pálida, isso quer
dizer que não anda ao sol o dia inteiro, a trabalhar
nos campos. É como se fosse da realeza.”
Não melhorou muito. Mas, mesmo assim, con-
quistavas-me o coração.
É DIFÍCIL A TRANSIÇÃO para adulto, mas, para
quem tem perturbações do espectro autista, essa
transição é ainda mais difícil. O autismo é uma per-
turbação complexa do foro neurológico que diminui
as capacidades de interacção social, de linguagem
e comunicação, provocando comportamentos rígi-
dos e repetitivos. (Ver reportagem sobre a detecção
do autismo na página 58.) O leque de incapacidades
(e aptidões) é enorme, razão pela qual é classificada
como perturbação “de espectro”, e o número de
indivíduos afectados tem vindo a aumentar.
Num estudo publicado em 2018 pelos Centros
de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA,
verificou-se que a prevalência era de 1 em cada
59 crianças com 8 anos de idade, um aumento
de 15% em dois anos. Qual a causa? Eis um tema
que suscita discussão. Uma coisa é certa, porém: a
população de adultos com autismo está a crescer
rapidamente. Segundo Paul Shattuck, da Univer-
sidade Drexel, mais de 700 mil atingirão a idade
adulta até 2030 nos Estados Unidos. Os serviços
de apoio a autistas adultos tornam-se quase ine-
xistentes depois dos 21 anos de idade. O que irão
estas pessoas fazer no seu quotidiano?