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Anat Klebanov acalma
o filho Gil, de 21 anos,
depois de este sofrer
uma crise nervosa no
âmbito do programa
JoyDew, desenvolvido
em Midland Park.
Anat e o marido,
Moish Tov, fundaram
o JoyDew para dar
formação profissional
e emprego a adultos
autistas, muitos dos
quais não-verbais.
O programa procura
combinar as
capacidades dos
participantes com um
trabalho significativo,
como examinar
mamografias em busca
de anomalias. Além
de Gil, o casal tem
outro filho, Tal, de 23
anos, também com
autismo. JoyDew é a
tradução em inglês dos
nomes dos seus filhos
em hebraico.
Os dados sobre o emprego variam significati-
vamente, mas pensa-se que mais de 8 em cada 10
adultos autistas se encontrem em situação de de-
semprego ou subemprego. Os estudos mostram
também que um número idêntico deseja ter um
parceiro romântico, mas só cerca de um terço a
metade têm efectivamente um parceiro e muito
menos chegam a casar. Se Freud tinha razão ao
afirmar que o trabalho e o amor são os alicerces da
humanidade, precisamos de melhorar a situação.
Estas questões são muito pessoais para mim.
O meu filho autista, Gus, acabou de fazer 18 anos.
É a pessoa mais bondosa que se possa imaginar,
com uma combinação inexplicável de pontos for-
tes e pontos fracos que não me permite adivinhar
se alguma vez conseguirá viver autonomamente.
Porque será que toca piano tão bem, mas não é ca-
paz de cortar a comida no prato? Porque será que
adora as redes sociais, mas não consegue evitar
ser amigo de toda a gente, de tal forma que o seu
círculo abrange “Sex Worker Aboud” e um núme-
ro de “amigos” suspeitos suficientemente grande
para ser incluído na lista de pessoas vigiadas pelo
FBI? Já que falamos nisso, como consegue ele an-
dar com tanta facilidade pela cidade de Nova Ior-
que, mas não lhe podemos confiar dinheiro por-
que o dá a qualquer pessoa que lho peça?
Passo muito tempo a pensar sobre o que será
preciso para tornar o meu filho independente. Há
dias em que não penso noutra coisa. Não sou a úni-
ca. Estima-se que existam quatro milhões de autis-
tas nos EUA e há certamente muito mais de quatro
milhões de pessoas neurotípicas que os amam.
À medida que o Gus se vai aproximando da ida-
de adulta, a lista dos desafios que me preocupam
vai crescendo. Mas as duas perguntas que me ti-
ram o sono são as seguintes: encontrará um dia o
amor e conseguirá um trabalho que lhe interesse e
lhe permita sustentar-se, pelo menos parcialmen-
te? Parti em busca daquilo que poderia aprender.
HÁ CERCA DE UM ANO, mandaram-me um bilhete.
Era de uma professora da escola do Gus. Eu tinha
acabado de publicar “To Siri with Love”, um livro
sobre a educação de uma criança do espectro
“médio” do autismo, e acho que revelei muitas
apreensões. “Não percebo o que tentou dizer”, escre-
veu a professora. “O Gus vai conseguir arranjar um
emprego! Não vai precisar da caridade de ninguém.”
Foi o melhor bilhete que alguma vez recebi.
É verdade que há um número cada vez maior
de empresas que reconhecem os talentos espe-
ciais, por vezes extraordinários, das pessoas au-
tistas. Algumas criaram departamentos especiais
de recrutamento. A Microsoft e a HP organizam
eventos de vários dias para recrutar engenheiros
e cientistas autistas. Os bancos JPMorgan Chase e
Deutsche Bank também constataram as enormes
vantagens de contratar pessoas com capacidades
sociais possivelmente insuficientes, ou mesmo
inexistentes, mas tecnicamente dotadas. Isto é
maravilhoso, mas estes génios representam ape-
nas um pequeno subgrupo.
O que dizer dos autistas comuns?
Muitas empresas familiares estão a preencher
este nicho, geralmente fundadas por um progeni-
tor com vocação empresarial e com um filho, ou
filha, autista. Todos os dias ouço falar em empre-
sas novas deste tipo. A Good Reasons, na cidade
de North Salem, é uma empresa de tratamento
de cães que ajuda as pessoas autistas a desenvol-