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No entanto, poderosos interesses políticos,
incluindo do presidente da altura, Eduardo Frei
Ruiz-Tagle, opunham-se à venda. Foi então que
Kris McDivitt entrou em cena. Tinha-se reforma-
do recentemente do seu cargo de directora-geral
de outra empresa de vestuário, a Patagonia, e tra-
zia consigo fortuna e convicções próprias. A sua
percepção era bastante compatível com a de Doug
Tompkins. Casaram-se em 1994.
Kris Tompkins é uma mulher baixa e determi-
nada, com uma inteligência clínica. É capaz de
recordar sem se emocionar. Huinay, sim, era a
peça que teria unido Pumalín, diz. Tinha cerca
de 340 quilómetros quadrados. Não era grande,
comparada com Pumalín Norte ou Sul, mas sepa-
rava a região continental do Chile num dos seus
pontos mais estreitos, entre o golfo de Ancud e os
cumes dos Andes. Os seus esforços para adqui-
rir o terreno despertaram suspeitas, resistências
e rancores. Alguns comentaram que, com todas
estas aquisições e esforços de protecção, o casal
preparava-se para pôr fim à produção em terras
agrícolas. Desapareceriam postos de trabalho. Os
Tomkins estavam a moldar um “feudo” no Chile.
Estas reacções prosseguiram ao longo da dé-
cada de 1990 e nos primeiros anos deste século,
à medida que o casal alargava o movimento de
aquisição e protecção de terras a outras regiões do
Chile. Quem seriam aqueles gringos açambarca-
dores e quais os seus planos nefastos? Pretendiam
construir um aterro de resíduos nucleares? Bases
militares para a Argentina? Roubar a água do Chi-
le? Ou quereriam somente transformar grandes
pedaços do Chile nos seus refúgios privados?
Na verdade, o seu objectivo em Pumalín era
comprar terras, criar um parque e doá-lo ao país.
No entanto, o Chile não tinha tradição de filantro-
pia privada fora da igreja e de projectos educati-
vos. Vinda de um casal de americanos, essa ini-
maginável generosidade parecia paternalista na
melhor das hipóteses e sinistra na pior. Huinay
era particularmente sensível porque, embora pe-
queno, liga uma fronteira à outra. Se a proprieda-
de fosse adquirida por estrangeiros ricos, o país fi-
caria cortado a meio – argumentavam os críticos.
“Fomos desprezados durante 4 ou 5 anos”, diz
Kris Tompkins. “Achavam que éramos uma seita.”
AO LONGO DE 21 ANOS DE CASAMENTO, com as
suas múltiplas propriedades e projectos dispersos
pelo Chile e pela Argentina e o seu interesse pela
natureza, os Tompkins passaram muito tempo a
bordo de pequenos aviões privados. Ele acumulava
15 mil horas de voo. Ela assumia os controlos de vez
em quando, mas, como não tinha licença de piloto,
não podia descolar nem aterrar. “É quando sou mais
feliz: a voar”, revela. Sempre acharam que iriam
morrer juntos por causa daquelas idas e vindas con-
turbadas, no Cessna ou no Husky, por entre os picos
e desfiladeiros dos Andes.
Não aconteceu assim. Ele morreu de hipoter-
mia no dia 8 de Dezembro de 2015, num hospital
da capital regional, Coihaique, após imersão pro-
longada num lago chileno gelado, num dia desas-
trosamente infeliz em que os ventos se levanta-
ram, as ondas cresceram e o leme do seu caiaque
se avariou. A embarcação virou-se e o vento e a on-
dulação contrários impediram-no – e ao seu com-
panheiro de caiaque, o famoso montanhista Rick
Ridgeway – de chegar a terra. Rick foi salvo uma
hora depois e sobreviveu. Doug Tompkins não.