Adega - Edição 176 (2020-06)

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Em primeur,


vale a pena?


“Ouço amigos falando que compram vinhos en primeur,
queria saber se eles valem mesmo a pena?”, pergunta o
leitor Lauro Marchesi

O


famoso “mer-
cado de futu-
ros” do vinho,
ou “en primeur”, é
uma tradição bordalesa
antiga. Ele se dá com os
negociantes bordaleses
que adquirem aloca-
ções com os principais
châteaux, comprando
seus produtos ainda
não finalizados. É um
mercado tradicional
em Bordeaux (que re-
monta ao período pós-
-II Guerra Mundial) e
que atualmente, apesar
de algumas críticas,
congrega não somente
os vinhos locais, mais também grandes ícones in-
ternacionais que são vendidos pela chamada “Place
de Bordeaux”.
A ideia da venda en primeur, para os châteaux, é
garantir fluxo de caixa (pois recebem o dinheiro em
média dois anos antes de o vinho estar engarrafado)
e distribuição mais ampla de seus produtos. Para os
negociantes, é uma forma de garantir preços mais
acessíveis (e assim maiores lucros) e prestígio com
seus clientes. Por fim, para os clientes, é uma forma
de reservar garrafas escassas e, quem sabe, assegurar
preços teoricamente mais baixos (podendo até mes-
mo ter lucro no futuro).
Mas comprar en primeur vale a pena? Va-
mos voltar no tempo. Entre 1994 e 2005, o

preço cobrado pelos
châteaux representava
50% do valor do vinho
no momento em que
era lançado. Isso dei-
xava muita margem
de lucro para negocia-
dores, comerciantes e
colecionadores. Desde
2006, no entanto, a
participação dos châ-
teaux aumentou para
70% em média. E o re-
sultado foi um aumen-
to do risco para o resto
da cadeia, reduzindo o
incentivo à compra. E
quanto mais vinho fica
estocado, mais chances
de, no futuro, encontrar garrafas antigas com
preços não tão altos, ou até mesmo mais baixos
do que no lançamento.
Não é tão simples saber quais safras vão valorizar
ou não. Mas, geralmente a tendência é de aumento,
como se pode ver nos índices divulgados pela Liv-
-ex, uma espécie de “bolsa de valores” que monitora
o preço de venda de vinhos finos no mundo. Seu
índice mais amplo, o Liv-ex 1000 valorizou 37,45%
nos últimos cinco anos, por exemplo.
No entanto, compradores en primeur na maio-
ria das vezes não focam esse investimento com vis-
tas a ter lucros, mas a desfrutar de grandes vinhos
que talvez não encontrem no futuro. Então, nesse
sentido, pode-se garantir que, sim, vale a pena.
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