Adega - Edição 176 (2020-06)

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Algumas


vinícolas


chamaram


de “Aquaoir”


o “terroir


marinho”


em que


mergulham


suas


garrafas


primeiros produtores a testar o envelhecimento
subaquático foi o espanhol Raúl Pérez, em 2003.
Na época, ele mergulhou garrafas de Albariño
de Rías Baixas no oceano por 60 dias. Diz-se que
outro pioneiro, Piero Lugano, da vinícola Bisson,
na Ligúria, tentou o método em 2008 por “neces-
sidade”, quando viu que sua adega simplesmente
não tinha espaço suficiente para envelhecer os
espumantes produzidos. Assim, mergulhou 6.500
garrafas no mar, retirando-as no ano seguinte.
Mais recente são os projetos empreendidos
por nomes como Mira Winery, no Napa Valley,
Château Larrivet Haut-Brion, de Bordeaux, Ca-
vas Submarinas, do Chile, o grupo Miolo, do
Brasil, e a própria Veuve Clicquot, que decidiu
empreender um teste logo após a descoberta das
garrafas no Báltico – criando o que eles chama-
ram de “Cellar in the Sea”.

Terroir aquático? “Aquaoir”?
Especialistas dizem que o envelhecimento do
vinho, especialmente dos espumantes, debaixo
d’água, beneficia-se de ótimas condições, pois o
oceano oferece um ambiente fresco e pressuri-
zado, além da ausência de luz e relativa falta de
oxigênio, e temperaturas baixas e quase constan-
tes. Mas não são apenas os espumantes a, teori-
camente, se beneficiarem do ambiente subaquá-
tico, brancos, tintos e até Jerez já foram enviados
para debaixo d’água.
A vinícola norte-americana Mira está entre
as líderes da pesquisa dos efeitos do método nos
vinhos e o apelidou de “aquaoir” (uma brin-
cadeira com “terroir”). Segundo eles, o vinho
mantido debaixo d’água tem um efeito de en-

velhecimento acelerado. Seu Cabernet Sauvig-
non 2009, que ficou submerso por três meses,
tinha sabores de uma bebida envelhecida por
dois anos se comparada com uma versão que
permaneceu em terra firme, segundo a vinícola.
Se pensamos nas pesquisas que apontam que,
além da variação de temperatura, a trepidação é
um dos fatores para que os vinhos tenham enve-
lhecimento acelerado, faz sentido que o balan-
ço do mar tenha efeito semelhante.
Além desse envelhecimento precoce, o que
mais o “terroir subaquático” pode proporcionar?
Aliás, um vinho envelhecido no mar Báltico seria
diferente de um envelhecido no Adriático? Have-
ria diferença entre os “aquaoir”? As Cavas Sub-
marinas, no Chile, dizem que o mar da costa chi-
leno, com a influência da corrente de Humbolt,
traz benefícios inegáveis aos seus vinhos. Eles
produzem uvas em Itata e submergem os vinhos
em um local secreto em Caleta Chome, perto de
Hualpén, que estagiam lá por três meses.
Já a vinícola Edivo, da Croácia, desde 2014
mantém suas garrafas a cerca de 18 metros de
profundidade no mar Adriático, nas proximida-
des da vila de Drace, península de Pelješac, por
700 dias. Eles fizeram a concessão de um antigo
barco de pesca afundado que estava no fundo do
mar por mais de 30 anos e nele colocaram vinho
engarrafado e ânforas numa linha chamada de
Navis Mysterium (“O Mistério do Mar”).

Garrafa, barrica, ânfora...
Apesar de os produtores atestarem as diferenças,
o método de envelhecimento subaquático ain-
da está sendo avaliado. A Veuve Clicquot, por
exemplo, está realizando experimentos subaquá-
ticos regulares em alguns de seus Champagne. O
projeto “Cellar in the Sea” é um experimento de
50 anos para ver como as garrafas envelhecem.
Elas foram submersas em 2014 e serão analisadas
periodicamente.
Para suas experiências, a maioria dos pro-
dutores escolhe usar garrafas mantidas em uma
gaiola segura debaixo d’água, mas alguns decidi-
ram não filtrar o vinho antes de envelhecer (pois
acreditam que o vinho não filtrado pode intera-
gir melhor com o ambiente) ou então selar com
tampa de rosca em vez de cortiça. A escolha do
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