Adega - Edição 176 (2020-06)

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Edição 176 >> ADEGA 75


local também parece ser um ponto de cuidado,
com a temperatura da água e a profundidade sen-
do estudadas. De acordo com o FDA (Food and
Drug Administration, agência do Departamento
de Saúde dos Estados Unidos), “a cada 10 metros
de profundidade em que um vinho é envelhecido,
os selos de garrafas de vinho são submetidos a uma
atmosfera de pressão”, afetando a maneira como
o vinho interage com a água do mar ao seu redor.
Além das garrafas, faz-se experiências com
barricas e ânforas, por exemplo. A já citada Edivo
mergulha ânforas dentro das quais há uma garra-
fa de vinho. Já o Château Larrivet Haut-Brion, de
Bordeaux, experimentou envelhecer uma barrica
de seu vinho de 2009 no mar. Ela foi afundada
entre os parques de ostras de Joel Dupuch, em
Cap Ferret, na costa do Atlântico. Para o expe-
rimento, dois barris de tamanho idêntico foram
preenchidos com vinho de 2009 e receberam seis
meses extras de envelhecimento em comparação
com o restante da safra, que foi engarrafada em
junho de 2011. Um dos barris extras foi deixado
para envelhecer no Château, e o outro coberto
com uma caixa de cimento e amarrado aos can-
teiros de ostras de Cap Ferret.


Ambiente “simulado”
Após degustações, o crítico de vinhos francês
Bernard Burtschy afirmou: “A barrica do mar
estava melhor do que deveria. Estava mais sua-
ve, com maior complexidade do que seu primo
em terra”. A análise laboratorial revelou que o
vinho envelhecido no mar tinha taninos mais
macios e álcool um pouco mais baixo. Os ní-
veis salinos também aumentaram ligeiramente.
Depois disso, Bruno Lemoine, diretor e enólogo
de Larrivet Haut-Brion, afirmou que tentaria a
experiência novamente.
Em 2017, a vinícola Miolo decidiu envelhe-
cer um lote de espumantes na costa da França
durante um ano. Na época, Adriano Miolo che-
gou a dizer: “Em uma análise de espectometria
de massa, por exemplo, um espumante submerso
apresentou 10 vezes mais compostos moleculares
do que os envelhecidos pelo método tradicional.
Esses compostos são responsáveis pela formação
dos aromas e da complexidade do vinho”. Os vi-
nhos, contudo, não foram lançados ainda.


Além de
garrafas,
vinícolas
também estão
testando
submergir
barricas e
ânforas

O projeto “Cellar in the Sea”,
da Veuve Clicquot, é um
experimento de 50 anos para ver
como as garrafas envelhecem

O Domaine Julie Benau, do Languedoc-
-Roussillon, experimentou usar o movimento do
oceano como uma maneira de mexer as borras do
seu Libéro Picpoul, uma espécie de “bâtonnage
marinha”. Outros como Ben Portet, da Austrália,
e Craig Hawkins, da África do Sul, estão experi-
mentando submergir barris em tanques de água
doce. Curiosamente, em ambientes subaquáticos
“artificiais”, eles disseram que as bebidas ficaram
mais frescas, com mais taninos, diferentemente
dos envelhecido no mar.

Futuro do vinho subaquático
Apesar de os produtores atestarem efeitos posi-
tivos nos vinhos, eles talvez ainda sejam inco-
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