Adega - Edição 176 (2020-06)

(Antfer) #1

76 ADEGA >> Edição^176


mensuráveis para a maioria dos consumidores
caso o rótulo não especifique que a bebida foi
envelhecida debaixo d’água. Apesar de muitos
estarem testando o método e outros ainda te-
rem criado vinícolas especializadas em vinhos
subaquáticos, alguns dos pioneiros estão reava-
liando a técnica.
Raúl Pérez, por exemplo, tem estudado ape-
nas uma pequena porcentagem do seu Sketch
Albariño debaixo d’água para fins de pesquisa
após notar uma grande quantidade de deterio-
ração em uma safra. Há ainda barreiras legais
que podem impedir os avanços de pesquisa nessa
área. Em 2014, o FDA considerou a prática ile-
gal citando o risco de substâncias perigosas entra-
rem nas garrafas e proibiu a comercialização de
produtos que tenham contato direto com o mar,
liberando apenas alguns cujos métodos simulam
a ação marinha, mas em terra e sem contato com
água do mar.
Com os custos de manutenção das garrafas
no mar, esses vinhos tendem a ter preços bem
mais “salgados” do que seus pares feitos em terra.
Se as vantagens desse envelhecimento submerso
“compensam” essa diferença de valor, quem pro-
vou pode dizer. Diante de tantas iniciativas nes-
sa área, quem sabe futuramente tenhamos uma
nova categoria de vinhos e venhamos a analisar
os efeitos dos diferentes mares do mundo no sa-
bor dos vinhos. Será?

UVAS SALGADAS
Além de garrafas de vinho submersas no mar, mais recentemente
enólogos têm feito algo ainda mais “radical”, submergir as uvas antes
de produzir o vinho. Pode parecer “novidade”, mas, isso, na verdade,
é o resgate de uma técnica ancestral esquecida. Pesquisadores como
Attilio Scienza (que ajudou a reviver o vinhedo de Leonardo Da Vinci)
acreditam que um dos vinhos mais cultuados da época romana, feito
na ilha grega de Chios, era “levemente salgado” graças ao banho das
uvas em água do mar.
Depois de conhecer a pesquisa de Scienza, o enólogo Antonio Arrighi
decidiu que faria um vinho com a mesma técnica na ilha de Elba. Lá,
ele plantou a variedade Ansonica e passou a fazer experimentos. As
uvas foram submersas em cestas de vime por cinco dias, 10 metros
abaixo da superfície. Submergir as uvas no mar removeu a flor de
cera que se desenvolve em suas peles, o que permitiu secar ao sol
mais rapidamente. A secagem das uvas é uma técnica usada para
concentrar açúcares e sabores, mas o tempo de secagem mais rápido
ajudou a preservar sabores e aromas frescos. Depois de envelhecer
(em terra) por um ano, a safra inaugural de 2018, chamada Nesos, foi
lançada com apenas 40 garrafas.
Segundo o produtor, o “vinho marino” tem o dobro de fenóis de
um vinho branco comum. “A aparência é amarela enferrujada,
ligeiramente velada. E o aroma sugere frutas brancas maduras,
esmalte, verniz e amêndoa, enquanto revela um sabor persistente,
complexo e prolongado, extremamente sápido”, disse Arrighi, que
pretende comercializar a safra 2019 internacionalmente.
Free download pdf