Adega - Edição 176 (2020-06)

(Antfer) #1

Edição 176 >> ADEGA 77


Os Champagnes encontrados no
fundo do mar Báltico em 2010
foram analisados por uma equipe
de cientistas liderada por Philippe
Jeandet, professor de bioquímica de
alimentos da Universidade de Reims.
Ele comparou o “vinho do Báltico” com
o Veuve Clicquot moderno. O resultado
mostrou que os vinhos antigos (também
Veuve Clicquot mas datados de 1840
aproximadamente) continham menor
teor alcoólico e níveis mais altos de
açúcar – cerca de 140 gramas de
açúcar por litro, em comparação com
cerca de 6 a 8 gramas por litro de hoje.
Os pesquisadores acreditam que
os níveis mais baixos de álcool são
consequência de um clima mais frio
e do uso de levedura menos eficiente.
Além disso, os produtores de vinho
do século XIX adicionavam uma


quantidade considerável de açúcar
para adoçar artificialmente a bebida.
Essa adição teria diluído o vinho,
possivelmente impactando também em
menor teor alcoólico.
O vinho envelhecido no mar também
apresentou níveis maiores de ferro,
cobre, sódio e cloro. Isso sugere o
uso de recipientes contendo metal
e madeira durante o processo de
fabricação. Além disso, no século XIX,
o sulfato de cobre era frequentemente
usado para o controle de doenças nas
vinhas. Os níveis elevados de sódio e
cloro podem ser atribuídos ao sal, que
foi adicionado para ajudar a estabilizar o
vinho durante o processo de fabricação
do século XIX.
O teor de açúcar fornece uma pista
importante sobre o destino do barco
naufragado. A localização dos destroços

sugere que o navio iria ao mercado
russo. No entanto, os russos exigiram
níveis extremamente elevados de
açúcar, em torno de 300 gramas por
litro. “Era comum ter açúcar em todas
as mesas perto da taça de vinho –
porque eles adicionavam açúcar não
apenas ao vinho tinto, mas também
ao Champanhe”, diz Jeandet. Isso
fez com que se criasse um tipo de
espumante chamado de “Champagne
à la Russe” na época. Já alemães e
franceses exigiam níveis de açúcar
mais moderados de aproximadamente
150 gramas por litro, e britânicos e
americanos preferiam níveis ainda mais
baixos, de 20 a 60 gramas por litro.
Com base no teor de açúcar medido, os
autores acreditam que o carregamento
provavelmente era destinado à
Confederação Alemã.

OS CHAMPAGNES NAUFRAGADOS

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