Adega - Edição 177 (2020-07)

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Edição 177 >> ADEGA 13


ma vez?” “Não”. “Lafite?” “Não”. “Vinho da
Argentina?” “Não”. “É uma besta?” “Sou jo-
vem”. Então, toda quarta-feira, com seu staff,
degustava os vinhos mais importantes. É aí
que se compreende que há tantas coisas boas
e se pode fazer melhor.

E quando voltou à Itália?
Quando voltei, primeiro fiz o Carabinieri. De-
pois, queria ficar nos Carabinieri, mas minha
namorada (que mais tarde se tornou minha
esposa) disse-me para parar com isso e ir traba-
lhar em Firenze. Assim, comecei com a vinha
e, da vinha, passei ao vinho, que foi muito im-
portante, pois o vinho é a transformação. Para
uva se tornar vinho, não é assim banal.

Qual a importância da parceria
com Mondavina Luce della Vite?
Foi muito importante, pois quando um pro-
dutor encontra outro na vinícola, ele vai dizer

nos ajuda a agricultores e muitas vinhas fo-
ram arrancadas. Os agricultores pararam de
cultivar, pois as fazendas eram pequenas, as
pessoas ficaram velhas e os filhos foram es-
tudar, tornaram-se engenheiros, advogados,
médicos, mas não camponeses.

Quando houve a mudança qualitativa no vinho italiano?
Ocorreram duas safras extraordinárias, uma
em 1985, que foi incrível. Algumas zonas da
Toscana e do Piemonte fizeram vinhos feno-
menais. Os primeiros críticos vieram e disse-
ram: “Mamma mia, a Itália não é só produto
do dia a dia, mas de qualidade”. Depois, em
1990, outra safra excepcional. Aí já era um
momento em que a Itália eliminou o terro-
rismo, o vinho era bom e os empreendedores
do norte da Europa disseram: “Bem, podemos
voltar a andar por lá”. E pessoas da Suíça, Áus-
tria, Alemanha, começaram a comprar terre-
nos em Chianti, e também da Inglaterra. Em
Chianti, houve uma época com tantos ingle-
ses que chegou a se falar em “Chiantishire”,
pois eram muitos. Para nós, italianos, abriu-
-se uma porta importante para o mundo, pois
muitos investidores vieram. Com eles, pessoas
que eram verdadeiros técnicos, que haviam
estudado, que sabiam cultivar e fazer bons vi-
nhos começaram a assumir as empresas. Mas
aí eram estes estrangeiros ricos contra nós, pro-
dutores locais, mas pobres. Eles faziam vinho
bom e nós fazíamos vinho ruim... porca misé-
ria, que história ruim, precisamos começar a
abrir a cabeça.


Foi quando você foi estudar em Davis?
Na época, eu estudava agricultura e meu pai
me propôs: “Por que não vai estudar na Amé-
rica?” “Por que não? Vou, tchau, até mais”.
Depois ainda me disseram que havia as “cali-
fornian girls”. Mas em vez disso fui para Davis,
onde as californian girls eram muito feinhas,
não tinha praia, ondas, nada, só vinhedo, ani-
mais, fruta, chuva, sol... tristíssimo... [risos].
Na Califórnia, comecei a trabalhar para um
famoso distribuidor de vinhos. Eu tinha 22
anos e ele me disse: “Já provou La Tour algu-


“Era um técnico, mas algumas
vezes peguei a minha pistola,
pois é “melhor um processo
ruim que um bom funeral”. Ao
menos era isso o que diziam
quando se estava em serviço”,
diz Lamberto Frescobaldi
sobre a época em que serviu
como Carabinieri
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