Adega - Edição 177 (2020-07)

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sempre um pouquinho, mas não tudo. Em vez
disso, poder fazer uma joint-venture, como fi-
zemos como Mondavi, foi como abrir um livro
e dizer tudo, contar todas as coisas do vinho, o
que poderíamos fazer melhor, o que podería-
mos fazer diferente, o que poderíamos provar.
Mondavi tinha muito sucesso naqueles anos e
nos ajudou muito, como a comprar as barricas,
por exemplo. Era difícil comprar as barricas
boas e, com Mondavi, tínhamos uma via pre-
ferencial com os fornecedores. Foi um projeto
belíssimo, pois, como os ingleses dizem “raise
the bar”, elevamos o nível, a cada mês sem-
pre acima. Senti muito que tenha terminado
(Mondavi vendeu sua empresa para a Cons-
telation Brands e, em 2005, Frescobaldi com-
prou 100% da Luce), mas o que aprendemos
tentamos sempre colocar em uso e ter sempre
a mente aberta. Na Itália, quando se viaja, diz-
-se que se pega a bagagem e deixa um espaço
vazio para trazer as experiências para casa, en-
tão é preciso sempre viajar com uma bagagem
meio vazia para trazer as ideias de volta.

Vocês possuem diversas propriedades na Toscana,
como gerenciar tantos rótulos em um mesmo território?
O vinho é a expressão do lugar, do território.
O homem deve estar muito atento para não
influenciar demasiadamente o território com
seu trabalho. Há muitas coisas que o homem
deve fazer atentamente para fazer um grande
vinho. Mas deve fazer um trabalho pontual
sempre de respeito ao território. Se fizermos
um vinho que seja só bom... [pausa] Quan-
do há uma mulher bonita, se ela só é bonita,
dá um pouco de tédio. O mesmo com um

homem, se ele for só belo, só forte, não é in-
teressante, dá tédio. Você não se torna amigo
de uma pessoa que é só musculo. Deve ter
também um caráter, uma cabeça com quem
conversar. É o mesmo com os grandes vi-
nhos, devemos proteger a sua alma, ter uma
forte identidade, por isso cada lugar onde se
produz vinho é diferente. Isso é o que sempre
respeitamos, pois há locais no mundo que fa-
zem vinhos bons, mas tem alguns, poucos,
que podem fazer vinhos excepcionais. E es-
ses poucos locais custam muito, os terrenos
custam caro, e ali o que é a coisa mais impor-
tante? É como fazer o vinho ou o território,
que se pagou caro. Se pagou tão caro, precisa
fazer com que esse território possa também
ter a sua identidade no produto.

Gostaria que falasse um pouco do
projeto “Artisti per Frescobaldi”.
É um projeto belíssimo da minha prima, Ti-
ziana, em que se seleciona os artistas jovens,
que ainda não se tornaram tão importantes.
Como sabemos, eles, quando jovens, lutam
muito para crescer, e, muitas vezes, os ar-
tistas ficam ricos depois de morrer. E aqui
queremos que estejam bem também quando
vivos, para ajudar a se tornarem importantes.
É um belo desafio. Minha prima, com um
curador, escolhe três artistas para interpretar
Montalcino, a Tenuta Castelgiocondo. Não
colocamos muitos limites, mas pedidos para
interpretar o ambiente.

Há um projeto interessante em que vocês
fazem vinhos na ilha de Gorgona, que é uma
prisão no litoral da Toscana.
Curiosamente há também uma outra ilha
na América do Sul, chamada Gorgona, que
também era uma prisão, que fechou nos anos


  1. Gorgona, na Toscana, é uma prisão des-
    de 1863. Ela abriga pessoas que cometeram cri-
    mes muito graves e ficam na prisão por muitos
    anos. Mas um dia sairão. Isso, para algumas pes-
    soas, é uma coisa difícil de compreender, pois,
    nós todos, quando vemos um criminoso, que-
    remos, ou bater, ou colocar na prisão e jogar a
    chave fora. A lei não permite. Essas pessoas um


Há muitas
coisas que
o homem
deve fazer
atentamente
para fazer
um grande
vinho. Mas
deve fazer
um trabalho
pontual
sempre de
respeito ao
território
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