14 ADEGA >> Edição^177
sempre um pouquinho, mas não tudo. Em vez
disso, poder fazer uma joint-venture, como fi-
zemos como Mondavi, foi como abrir um livro
e dizer tudo, contar todas as coisas do vinho, o
que poderíamos fazer melhor, o que podería-
mos fazer diferente, o que poderíamos provar.
Mondavi tinha muito sucesso naqueles anos e
nos ajudou muito, como a comprar as barricas,
por exemplo. Era difícil comprar as barricas
boas e, com Mondavi, tínhamos uma via pre-
ferencial com os fornecedores. Foi um projeto
belíssimo, pois, como os ingleses dizem “raise
the bar”, elevamos o nível, a cada mês sem-
pre acima. Senti muito que tenha terminado
(Mondavi vendeu sua empresa para a Cons-
telation Brands e, em 2005, Frescobaldi com-
prou 100% da Luce), mas o que aprendemos
tentamos sempre colocar em uso e ter sempre
a mente aberta. Na Itália, quando se viaja, diz-
-se que se pega a bagagem e deixa um espaço
vazio para trazer as experiências para casa, en-
tão é preciso sempre viajar com uma bagagem
meio vazia para trazer as ideias de volta.
Vocês possuem diversas propriedades na Toscana,
como gerenciar tantos rótulos em um mesmo território?
O vinho é a expressão do lugar, do território.
O homem deve estar muito atento para não
influenciar demasiadamente o território com
seu trabalho. Há muitas coisas que o homem
deve fazer atentamente para fazer um grande
vinho. Mas deve fazer um trabalho pontual
sempre de respeito ao território. Se fizermos
um vinho que seja só bom... [pausa] Quan-
do há uma mulher bonita, se ela só é bonita,
dá um pouco de tédio. O mesmo com um
homem, se ele for só belo, só forte, não é in-
teressante, dá tédio. Você não se torna amigo
de uma pessoa que é só musculo. Deve ter
também um caráter, uma cabeça com quem
conversar. É o mesmo com os grandes vi-
nhos, devemos proteger a sua alma, ter uma
forte identidade, por isso cada lugar onde se
produz vinho é diferente. Isso é o que sempre
respeitamos, pois há locais no mundo que fa-
zem vinhos bons, mas tem alguns, poucos,
que podem fazer vinhos excepcionais. E es-
ses poucos locais custam muito, os terrenos
custam caro, e ali o que é a coisa mais impor-
tante? É como fazer o vinho ou o território,
que se pagou caro. Se pagou tão caro, precisa
fazer com que esse território possa também
ter a sua identidade no produto.
Gostaria que falasse um pouco do
projeto “Artisti per Frescobaldi”.
É um projeto belíssimo da minha prima, Ti-
ziana, em que se seleciona os artistas jovens,
que ainda não se tornaram tão importantes.
Como sabemos, eles, quando jovens, lutam
muito para crescer, e, muitas vezes, os ar-
tistas ficam ricos depois de morrer. E aqui
queremos que estejam bem também quando
vivos, para ajudar a se tornarem importantes.
É um belo desafio. Minha prima, com um
curador, escolhe três artistas para interpretar
Montalcino, a Tenuta Castelgiocondo. Não
colocamos muitos limites, mas pedidos para
interpretar o ambiente.
Há um projeto interessante em que vocês
fazem vinhos na ilha de Gorgona, que é uma
prisão no litoral da Toscana.
Curiosamente há também uma outra ilha
na América do Sul, chamada Gorgona, que
também era uma prisão, que fechou nos anos
- Gorgona, na Toscana, é uma prisão des-
de 1863. Ela abriga pessoas que cometeram cri-
mes muito graves e ficam na prisão por muitos
anos. Mas um dia sairão. Isso, para algumas pes-
soas, é uma coisa difícil de compreender, pois,
nós todos, quando vemos um criminoso, que-
remos, ou bater, ou colocar na prisão e jogar a
chave fora. A lei não permite. Essas pessoas um
Há muitas
coisas que
o homem
deve fazer
atentamente
para fazer
um grande
vinho. Mas
deve fazer
um trabalho
pontual
sempre de
respeito ao
território