Adega - Edição 177 (2020-07)

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Vinhedos à sombra
Também durante muitos anos, o Liebfraumilch
só podia ser produzido de uvas provenientes de
vinhedos alcançados pela sombra da alta torre da
Liebfrauenkirche, ou seja, um terroir bastante re-
duzido. Naqueles tempos, tratava-se de um vinho
de alta qualidade e grande reputação. Em 1808,
Napoleão dominou a área e obrigou todas as pro-
priedades eclesiásticas a vender suas terras. O
vinhedo da igreja, quase totalmente de Riesling
de alta qualidade, era chamado Liebfrauenstift-
-Kirchenstück, ou simplesmente Madonna.
Há inúmeros outros chamados Kirchenstück
na Alemanha, por terem um dia também perten-
cido à Igreja. A maior parcela ficou nas mãos de
Peter Joseph Valckenberg, um negociante de vi-
nhos muito eficiente e esperto. Em alguns anos,
auxiliado pela reputação prévia do vinho e do
vinhedo, a demanda pelo Liebfraumilch aumen-
tou drasticamente. De certa forma, Valckenberg

criou uma das primeiras marcas comerciais bem-
-sucedidas de vinhos. Na virada do século XIX,
o produto alcançava, nos grandes restaurantes
europeus, os mesmos preços dos melhores crus
classés de Bordeaux.
Com o passar das décadas, a demanda aumen-
tou muito, mas a oferta era limitada pelo peque-
no território de vinhas. A concorrência – além
da própria P.J.Valckenberg, empresa do primeiro
dono pós-eclesiástico – passou a fabricar outros
vinhos, rotulados também como Liebfraumilch,
inclusive com uvas que não a Riesling.
Em 1908, foi promulgada uma nova lei de vi-
nhos na Alemanha, com aspectos similares aos do
futuro sistema francês de denominações de origem,
isso é, ligando local ao vinho. O Liebfraumilch não
foi conectado ao vinhedo original; em vez disso,
sua produção ficou permitida em uma larga área
do país, inclusive em regiões além do Rheinhessen,
tais eram os interesses comerciais envolvidos.
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