Adega - Edição 177 (2020-07)

(Antfer) #1

Edição 177 >> ADEGA 75


Deiss também produz varietais, mas seus grandes
ícones são as mesclas encontradas em seus prin-
cipais vinhedos, especialmente no Altenberg de
Bergheim, seu ponto culminante. Ele ainda pos-
sui terras em outros expoentes vinhedos da região,
como Schoenenbourg e Mambourg, mas também
em alguns que estariam em processo de ingressar
na hierarquia dos vinhedos alsacianos (Premier
Cru, classificação que ele questiona).
Ele usa altas densidades de plantio (8.000 a
12.000 videiras por hectare) e isso, “por si só, per-
mite expressar todas as finas nuances do terroir,
seu temperamento, seus tiques, sua... loucura”.
Em seus principais vinhedos, não usa a indicação
da variedade de uva, segundo ele, “tão redutora e
estéril”, e apenas nomeia com “o gênio do lugar,
essa energia que sai do fundo como um grito”.
Hoje, ele divide a gestão do domaine com seu
filho, Mathieu. Apesar de ainda produzir varietais,
afirma que deseja abandoná-los futuramente. “Se


a denominação Alsácia tivesse peso, não estaría-
mos vendendo Moscatel”, diz. Recentemente,
pai e filho criaram o Domaine du Rêveur, com
7 hectares, onde estão testando novas técnicas de
vinificação. “Uma espécie de serviço de pesquisa
e desenvolvimento em que Mathieu pode questio-
nar as coisas que fiz”, conta.
Inquieto, ele criou um curso de degustação geo-
sensorial na Universidade de Estrasburgo. Esse tipo
de degustação é uma prova baseada no que aconte-
ce na boca do degustador, em oposição à degusta-
ção analítica tradicional, relacionada a aromas dis-
tintos. Nela, os vinhos são servidos às cegas em taças
negras, para que nenhuma informação relacionada
ao aspecto possa interferir na interpretação.
Enfim, Jean-Michel Deiss é visto como um
“rebelde”, “catequizador”, “dogmático”, mas de-
fine-se: “dirão que sou subjetivo, responderei que
estou apaixonado”. Paixão que, segundo ele, o faz
acordar pensando que é uma vinha.

Jean-Michel
Deiss
acredita que
os varietais
empobrecem
o terroir e a
essência da
Alsácia está
nos blends

VINHOS AVALIADOS


AD 93 pontos
MARCEL DEISS ALTENBERG DE BERGHEIM
GRAND CRU 2006
Domaine Marcel Deiss, Alsácia, França
(Mistral US$ 186 para a safra 2009). Produtor
biodinâmico, que defende os vinhos de terroir e
de assemblage, contestando o conceito varietal
dominante na Alsácia. Seus vinhos são, acima
de tudo, originais e merecem ser provados.
Branco meio doce composto majoritariamente
de Riesling e outras variedades brancas típicas
da Alsácia. Bom equilíbrio entre acidez e
doçura, frutas brancas bem maduras, notas de
mel e de frutas cítricas ao final. Melhora quanto
mais tempo na taça. Mostra grande estrutura,
complexidade e profundidade. EM

AD 92 pontos
MARCEL DEISS BURLENBERG LE COLINE BRULÉE
PINOT NOIR 2006
Domaine Marcel Deiss, Alsácia, França (Mistral
Não disponível). Elaborado a partir de uvas
Pinot Noir advindas de solo calcário vulcânico.
No início, os aromas estavam fechados, frutas
mais maduras, notas de grafite, mais austero.
Depois apareceram frutas negras maduras,
especiarias doces, toques defumados e de
cogumelos frescos, além de notas terrosas.
Surpreende pela textura sedosa e quase
granulada de seus taninos, tudo num contexto
de frescor, complexidade e profundidade. EM

AD 93 pontos
MARCEL DEISS SCHOENENBOURG
GRAND CRU 2010
Domaine Marcel Deiss, Alsácia, França
(Mistral US$ 208 para a safra 2012).
Segundo o produtor, o solo de onde
vem as uvas para esse vinho tem
grande quantidade de SO2, o que faz
naturalmente com que o vinho resista
à oxidação. Muito fino, mineral, num
estilo mais magro, com mais acidez,
mas também profundidade, mantendo
o estilo de construção do produtor,
fundado em estrutura e potência,
sempre com ótima textura. EM

AD 95 pontos
MARCEL DEISS SCHOENENBOURG
GRAND CRU 1994
Domaine Marcel Deiss, Alsácia, França
(Mistral US$ 208 para a safra 2012).
Impressionantemente cheio de fruta
e de vivacidade. Aqui há uma maior
porcentagem de Riesling quando
comparado ao mesmo vinho da
safra 2010. Branco de ótima textura,
estruturado, tem boa acidez, ótimo
volume de boca e final gordo e
profundo. Sofisticado, aparentemente
simples, mas cheio de complexidade,
de pureza e de camadas. Paciência com
ele na taça. EM
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