Exame - Portugal - Edição 436 (2020-07)

(Antfer) #1

Micro



  1. EXAME. AGOSTO 2020


Se 2020/
for jogado
sem público
nos estádios
haverá sérias
consequências
financeiras,
mas elas já
existem – os
clubes estão
a caminho
da falência”

Stefan Szymanski
Economista e autor
de Soccernomics

Clubes falidos, jogadores vendidos em
saldos, maior desigualdade entre clubes
(e entre ligas), necessidade de reestrutu-
ração financeira e de repensar o modelo
de financiamento. A pandemia que está
a varrer o mundo arrastou a indústria do
futebol para aquela que pode ser a sua
maior crise de sempre. Sem público nas
bancadas, com um produto menos espe-
tacular para transmitir nas televisões, um
previsível recuo nas receitas de publici-
dade e merchandising e, acima de tudo,
o rebentar da bolha das transferências,
o futebol prepara-se para uma travessia
do deserto. O setor provavelmente não
voltará a ser o mesmo. O que irá mudar?
Um pouco como todos nós e o res-
to da economia, o futebol será obrigado
a adaptar-se a uma nova realidade pós-
-Covid-19. Integrado numa das áreas que
mais sofreram com a crise de saúde pú-
blica – os espetáculos ao vivo – e consti-
tuído por empresas que frequentemente
estão em situações financeiras precárias,
o desporto é vulnerável aos efeitos devas-
tadores do coronavírus. Até haver uma
vacina, a “normalidade” será provavel-
mente uma ficção.
A indústria do futebol é muito mais
do que os 22 jogadores que sobem ao
relvado. Existem muitos mais trabalha-
dores e empresas dependentes desta ati-
vidade. Das rulotes à porta dos estádios
aos bancos que emprestam dinheiro aos
clubes. Em Portugal, as duas principais
ligas representam 0,3% do PIB nacional
e empregam diretamente mais de 2 600
pessoas, a grande maioria jogadores. As
equipas pagam anualmente 150 milhões
em impostos.

Estimativas iniciais sobre o impacto
da pandemia apontavam para perdas en-
tre os 700 e os mil milhões de euros em
campeonatos de maior dimensão, como
Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha.
As contas feitas pela Liga portuguesa em
abril sugeriam que o cancelamento dos
últimos dez jogos do campeonato seria
um desastre financeiro, provocando uma
quebra de 37% da receita e colocando as
SAD no vermelho. Esse cenário cataclís-
mico não se confirmou, mas a alternativa
não evita uma enorme dor. O regresso
aos jogos sem público para as equipas da
primeira divisão deverá colocar a fatura
da pandemia em 127 milhões de euros,
o que representa uma contração de 15%
face à época anterior. Pode não parecer
muito, mas esse número esconde profun-
das diferenças entre as equipas, algumas
com tesourarias à beira do precipício. Na
altura em que este texto é escrito, o Des-
portivo das Aves, com salários em atraso
há 90 dias e que falhou o pagamento do
seguro de acidente de trabalho dos joga-

C


existem – os
clubes estão
a caminho
da falência”

Stefan Szymanski
Economista e autor
de Soccernomics

dor. O regresso
ra as equipas da
colocar a fatura
lhões de euros,
ntração de 15%
de não parecer
sconde profun-
quipas, algumas
o precipício. Na
é escrito, o Des-
ários em atraso
pagamento do
balho dos joga-

Dinheiro em caixa
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português, o FC Porto assegurou os milhões
da entrada direta na Liga dos Campeões
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