Exame - Portugal - Edição 436 (2020-07)

(Antfer) #1

Micro



  1. EXAME. AGOSTO 2020


RISCOS E POTENCIALIDADES
O presidente da Associação Missão Cres-
cimento apresentou, na conferência, as
linhas principais de um estudo sobre os
novos desafios das empresas portuguesas,
enunciando uma série de limitações e fra-
gilidades da economia nacional, que po-
dem resultar nomeadamente numa pos-
sível perda de empresas (entre 200 a 400
mil) e postos de trabalho associados (1,4
milhões, na pior das conjeturas) se vier a
repetir-se um cenário semelhante ao da
última crise económica e financeira.
De acordo com o documento (ver cai-
xa nas páginas anteriores), a China está
mais bem posicionada do que os EUA e
do que o bloco europeu para fazer frente
à crise, tanto do lado da capacidade de
endividamento, como da margem para a
cobrança de impostos. Portugal, em parti-
cular, enfrenta constrangimentos do lado
do investimento, com uma potencial forte
perda de capital, excessivo endividamento
e empresas a apresentarem uma reparti-
ção desequilibrada entre o valor que vai
para remuneração de empregados e o que
resta de excedentes brutos de exploração.
Num quadro em que o Estado tem vin-
do a socorrer vários setores da economia,
Jorge Marrão sublinhou a ideia de “vigi-
lância” em relação à intervenção dos po-

IMAGEM DO PAÍS QUE ENFRENTA O RISCO


Das pessoas ao ambiente, há progressos feitos em Portugal,
mas muito espaço para melhorar

É um retrato pintado a
várias cores e com alguns
contrastes aquele que nos
surge no estado da arte,
do País e das empresas,
nos três pilares em que
assenta o prémio Inovação
na Prevenção, lançado
pela EXAME e pela Ageas
Seguros. Uma radiografia às
pessoas, ao património e ao
ambiente que, pese embo-
ra os sinais encorajadores,
deixa muito campo aberto
para melhorias em vários
domínios, desde logo com
a adoção de políticas ativas
de gestão e prevenção dos
riscos.
Veja-se a área mais ligada
aos colaboradores, em
que a taxa de absentismo
cresce, as faltas por doença
têm impacto de muitos
milhões e há mais de 200
mil acidentes de trabalho
por ano. De acordo com o
Índice de Saúde Sustentá-
vel, desenvolvido pela Nova
Information Management
School (NOVA-IMS) e
citado pela Lusa, em 2018,
os portugueses faltaram,
em média, quase seis dias
ao trabalho, o que resultou
num prejuízo de €2,2 mil
milhões. Um ano antes, se-
gundo o INE, a taxa de ab-
sentismo subira para 6,8%,
tendo-se perdido quase
34 mil horas por doença e
quase 25 mil por consultas
médicas. Já 2019 foi o sexto
ano consecutivo em que
aumentou o número de be-
neficiários de subsídio por
doença, alcançando as 737
mil pessoas, mais 50 mil
num ano, como avançou a
TSF. Também nos acidentes
de trabalho, o registo não
anima: foram 209,4 mil, em
2017, e desde 2014 que não

voltaram a baixar da fasquia
de 200 mil. As 140 mortes
que provocaram naquele
ano foram, porém, o segun-
do registo mais baixo em
mais de 30 anos, de acordo
com a Pordata.
No capítulo da formação,
importante para prevenir
sinistros, o panorama é
cinzento. Em 2018, só 16%
das empresas em Portugal
garantiram formação aos
seus trabalhadores, o
valor mais baixo desde que
há registos, segundo os
números do Ministério do
Trabalho citados pelo DN.
São sobretudo as grandes
empresas a assegurá-lo e,
mesmo assim, as 33,8 ho-
ras de formação por ano e
colaborador ficaram aquém
do número anual obrigató-
rio de 40 horas, recente-
mente estabelecido. Um
quinto dos trabalhadores
abrangidos frequentaram
formação em higiene e
segurança no trabalho, a
mais popular.
Outra via possível para
criar condições de saúde e
bem-estar dos colaborado-
res passa pelos benefícios
flexíveis atribuídos pelas
empresas. O estudo Total
Compensation Portugal
2019, da Mercer, concluiu
que 92% das inquiridas
concedem um plano
médico aos trabalhadores,
extensível aos familiares
em 69% dos casos. E 80%
das empresas suportam
totalmente o custo. Quase
metade atribui seguro de
acidentes pessoais e de
vida, bem como planos de
pensões.
No campo da susten-
tabilidade ambiental, a
pegada das organizações

continua a ser visível, mas
muitas estão preocupadas
em melhorar a situação.
Embora o País se saia
bem em relação à média
europeia na intensidade
energética e na emissão de
gases com efeito de estufa
pela economia, continua a
superar a média dos parcei-
ros da União na intensidade
carbónica, como mostram
os dados da Agência
Portuguesa do Ambien-
te, Eurostat e Pordata. O
consumo interno de ma-
teriais (recursos naturais)
aumentou, em 2017, para
163,7 milhões de toneladas,
mas o que também cresceu
foi a capacidade de o Estado
arrecadar receita, levando
os impostos ambientais
cobrados a um máximo de
€5 mil milhões naquele
ano. De salientar ainda a
importância atribuída pelas
organizações à imple-
mentação de sistemas de
gestão ambiental. Em 2018,
segundo a mesma fonte,
havia 1 145 entidades com a
certificação ISO 14001, pese
embora menos 29 que no
ano anterior.
Finalmente, no setor do
património, os sinistros na
área corporativa estabili-
zaram, entre 2016 e 2018,
nos 32 mil por ano, com
a descida do lado das
empresas a ser ofuscada
pelo aumento do lado da
indústria, segundo a ASF,
supervisora dos seguros.
Juntas, estas duas áreas da
economia representaram
um quarto da produção de
seguros no ramo incêndios
e outros danos em coisas,
além de capitais seguros
de €203,2 mil milhões tam-
bém neste âmbito.
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