Exame - Portugal - Edição 436 (2020-07)

(Antfer) #1

Macro



  1. EXAME. AGOSTO 2020


ou constrangimentos que o confinamento
lhe tinha trazido. “Muitas das pessoas sen-
tiam as mesmas dificuldades e isso aca-
bou por aproximá-las. A transparência da
organização é a chave para o momento se-
guinte.” São ferramentas úteis para medir
o pulso às equipas, numa altura em que
as tensões estão particularmente eleva-
das. Ainda dentro do tema, o inquérito da
Randstad aos trabalhadores das empresas
portuguesas revela que 76% destes consi-
deram que os empregadores têm cuidado
do seu bem-estar, um número em linha
com a percepção global (75%).


VOLTAREMOS AO QUE ERA?


José Miguel Leonardo olha para o futuro
de curto prazo no mercado de trabalho
com serenidade e com a certeza de que
se vai chegar a um novo equilíbrio entre
trabalho e vida pessoal, e que este vai ser
sobretudo requerido pelos trabalhadores,
agora que já experimentaram outra forma
de desempenhar as suas tarefas. “Vamos
ser honestos: não é pelo que os emprega-
dores poupam que vamos usar mais o te-
letrabalho. Nas empresas de serviços, que


DESCENTRALIZAÇÃO?
Para Leonardo, o teletrabalho e as preocu-
pações em seu redor podem, no entanto,
potenciar também um outro “muito inte-
ressante e necessário” caminho: a descen-
tralização. “Por mil euros alugo, se calhar,
um T1 ou um T2 em Lisboa. Mas por esse
valor consigo uma moradia com jardim
no Interior do País.” E falar de Interior em
Portugal, é falar de uma distância que vai
pouco além dos 200 quilómetros, pelo que
nem sequer é uma questão particularmente
relevante se a pessoa precisar de estar pre-
sencialmente no escritório durante um ou
dois dias da semana, e considerando que
os escritórios estão em alguma das grandes
cidades. Para o responsável da Randstad,
a questão prender-se-á sobretudo com a
aposta que o Governo fizer no resto do País
em termos de serviços públicos: educação,
saúde e o reforço da rede de internet, na-
turalmente. “Temos aqui uma oportunida-
de única”, repete várias vezes. E deixa um
apelo a governantes e gestores, neste [quase]
rescaldo do confinamento: “Pensem no dia
depois de amanhã, que vai ser mais humano
que o de ontem.”

são as que melhor funcionam com tra-
balho remoto, os custos operacionais re-
presentam, em média, entre 5% a 7% dos
custos totais. Os salários dos trabalhado-
res representam em torno de 70 por cen-
to. Portanto, não é pela poupança” mas
sim por uma característica que Leonar-
do acredita que vai passar para a lista das
prioridades: a humanização do trabalho.
Claro que, entretanto, vão passar a
entrar na equação uma série de outras
questões, porque nem toda a gente tem
em casa as condições ideais para passar o
dia a trabalhar – um dos alertas que os es-
pecialistas mais têm feito é precisamente
o facto de muitos trabalhadores viverem
em casas pequenas onde pode não haver
uma secretária, uma boa cadeira ou até
as condições climáticas que permitam
ao funcionário exercer confortavelmente
as suas tarefas. Os sindicatos, aliás, têm
estado já a tentar perceber como se po-
derão resolver algumas destas questões e
que benefícios poderão passar a ser ne-
gociados para acautelar situações em que
o trabalho remoto passa a ser a regra ou,
pelo menos, uma opção regular.

Dar dois passos em frente
Para o responsável da Randstad em Portugal,
este não é só o tempo de voltar ao que éramos
mas de aproveitarmos para dar um salto qualitativo
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