Clipping Banco Central (2020-07-31)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Eu & Fim de Semana
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - FMI

curso, que envolve a desmontagem das
instituições que organizaram o mundo desde
1945, o enfraquecimento progressivo do
Ocidente e a provável transição para um
“século asiático”. Mas esse não é um processo
imediato: em vez de uma nova ordem global, o
planeta caminha para uma “anarquia pós-
pandêmica”, segundo o ex-primeiro- ministro
australiano Kevin Rudd, hoje presidente do
“think tank” Asia Society Policy Institute, em
Nova York.


Rudd se contrapõe a uma série de análises que
preveem a expansão da influência chinesa,
enquanto os EUA, sob Donald Trump, recuam
de seu papel como esteio da ordem global. Há
razões para crer que 2020 marca um momento
de avanço chinês, em detrimento dos
americanos. Pesquisas de opinião no mundo
em desenvolvimento expressam um sentimento
de decepção com a liderança americana. Na
Europa, que em 2019 havia declarado que a
China era um “rival sistêmico”, uma pesquisa
do “think tank” European Council on Foreign
Relations revela que 60% da população tem
uma imagem pior dosEUA hoje do que antes
da pandemia.


O tabuleiro diplomático já estava bagunçado
quando foi atingido pelo coronavírus e logo se
tornou um novo cenário de disputa entre as
duas grandes potências, cujas relações já
estavam degradadas. O sistema global
centrado nos EUA, com as instituições
herdadas de 1945, como o Fundo Monetário
Internacional, o Banco Mundial e a Otan,
estavam sob ataque. A China vinha buscando
expandir sua influência nos órgãos de decisão
multilateral e criava instituições paralelas, como
o Banco Asiático de Investimento em
Infraestrutura (Aiib) e o Banco dos Brics.


Pressionadas também pelo isolacionismo dos
EUA sob Trump, as instituições multilaterais


vinham sofrendo de perda de prestígio e
dificuldade de agir. As críticas à Organização
Mundial da Saúde (OMS) têm como pano de
fundo a escolha do etíope Tedros Adhanom
Ghebreyesus como diretor-geral, em 2017. Na
ocasião, Adhanom tinha o apoio dos chineses,
contra o britânico David Nabarro, apoiado pelos
americanos. A eleição foi um forte sinal de que
o equilíbrio de poder está, de fato, se
deslocando para o Pacífico.

“A crise do coronavírus acelerou uma perda de
poder real e percebida dos Estados Unidos que
já vinha acontecendo”, diz o ex-primeiro-
ministro australiano Kevin Rudd. “Mas o poder
da China também sofreu um impacto. Em
primeiro lugar, pelo estrago econômico. A
queda do PIB tem ondas de choque na
capacidade de gastar sem limites,
principalmente nas forças armadas e na
iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada”, afirma,
referindo-se ao gigantesco projeto de
investimentos chineses em infraestrutura em
várias partes do mundo, também conhecido
como Nova Rota da Seda.

“Os chineses também perdem um pouco de
prestígio internacional, tanto entre os países
ricos quanto entre os pobres”, argumenta o
analista. Desde o ano passado, quando Hong
Kong irrompeu em protestos, a expansão do
“soft power” chinês vem enfrentando
dificuldades. Neste ano, a repressão à minoria
muçulmana uigur e as refregas na fronteira
com a Índia, que provocaram a morte de 20
militares indianos em junho, acenderam o
alerta em Pequim.

No cenário de Rudd, ambos os principais
poderes estão prejudicados, e as instituições
de governança global se tornam arenas de
disputas entre “duas lideranças feridas”. “O
resultado vai ser uma queda paulatina na
anarquia internacional em todos os assuntos,
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