Clipping Banco Central (2020-07-31)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Eu & Fim de Semana
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - FMI

do comércio à segurança, passando pela
saúde. A natureza caótica das respostas
nacionais à pandemia é um sinal do que está
por vir”, afirma.


Antes mesmo do novo coronavírus, já havia
quem tratasse a ascensão econômica e
diplomática da China como o início de uma
“nova Guerra Fria”. Analistas como o
americano Robert Kaplan e o próprio Rudd
chegaram a empregar a expressão desde a
primeira década deste século. Com Xi Jinping,
Donald Trump e a pandemia, a ideia de uma
“segunda Guerra Fria” retornou com força: o
mundo das próximas décadas se anuncia
bipolarizado e conflituoso. A exclusão da
chinesa Huawei da concorrência pela
tecnologia 5G na Inglaterra seria, assim, um
sintoma dessa nova etapa histórica.


A analogia da Guerra Fria é aproveitada
também pelas lideranças dos países. Há duas
semanas, Trump ordenou o fechamento do
consulado chinês em Houston, no Texas,
acusando os diplomatas de espionagem
industrial. Na semana seguinte, os chineses
responderam com uma ordem para fechar o
consulado americano na cidade de Chengdu. A
acusação foi de “interferência em assuntos
domésticos”. Outro ponto de tensão é Hong
Kong, ilha que goza de um certo grau de
autonomia administrativa e que era colônia
britânica até 1997. Em resposta à nova lei de
segurança imposta pelo governo continental,
que permite um controle mais rigoroso de
protestos, o primeiro-ministro britânico Boris
Johnson anunciou que o Reino Unido
ofereceria a cidadania a quase 3 milhões de
residentes da ilha. Os chineses responderam
que consideravam a oferta uma agressão.


Mas há um ponto frágil na comparação com a
Guerra Fria, aponta Maurício Santoro,
professor de relações internacionais da


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj): a rivalidade dos americanos com a
então União Soviética, no século passado, não
se estendia ao campo econômico, já que os
soviéticos exportavam basicamente produtos
primários e armamentos. Hoje, por um lado, a
China está buscando competir com os EUA nos
setores industriais mais avançados. Por outro,
a interdependência entre os dois rivais, e
também entre ambos e o resto do mundo, é
quase completa: a economia é globalizada, e
as cadeias de valor atravessam continentes.

A interdependência põe os países que
compram e vendem das grandes potências em
situação delicada, já que tanto os americanos
quanto os chineses procuram atraí-los para
suas esferas. “Nos países do Sudeste Asiático,
como Cingapura, os governos e o setor privado
têm plena consciência de que é preciso se
equilibrar entre a China e os Estados Unidos,
evitando ao máximo o alinhamento completo
com um dos dois”, diz Santoro, lembrando que
a Guerra Fria foi um período sangrento em
muitos países da região, a começar pelo
Vietnã.

Ao mesmo tempo, a interdependência
econômica, no momento em que a governança
global se torna mais caótica, levanta a suspeita
de que possa estar começando um processo
de desglobalização, devido à quebra de
cadeias de fornecimento nos primeiros meses
do ano, quando partes da China estavam em
pleno “lockdown”. O ministro das Finanças
francês, Bruno Le Maire, declarou em fevereiro
que a Europa precisa reduzir sua dependência
“excessiva e irresponsável” da China. Estudo
do Bank of America indicou que 80% das
empresas multinacionais tinham planos de
diversificar suas cadeias de fornecimento,
diminuindo a presença na China.

Em seu pacote de estímulo econômico contra
Free download pdf