Banco Central do Brasil
Valor Econômico/Nacional - Eu & Fim de Semana
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Paulo GuedesClique aqui para abrir a imagemClique aqui para abrir a imagemAutor: Daniel Salles
O telefone toca, e o economista Eduardo
Moreira, sentado em frente à mesa de madeira
na churrasqueira de seu sítio, em Jacareí, a
80km de São Paulo, descobre que tem um
problema pela frente. “Qual é a programação
do Somos 70 por Cento para as próximas
semanas?”, pergunta, do outro lado da linha,
um repórter de um jornal paulistano. Dias
depois lhe perguntaram se é verdade que o
movimento seria financiado por organizações
internacionais e teria muito dinheiro por trás.
“Está sendo interessantíssimo testemunhar
como as ‘fake news’ são formadas”, diz Moreira
neste “À Mesa com o Valor” em sua casa, em
São Paulo. “Estão achando que o Somos 70
por Cento tem um prédio, reuniões regulares,
um conselho, redigiu um manifesto. Não é nada
disso. Até hoje não tem nem um centavo, não
patrocinou um mísero post .” A origem está
num debate virtual no fim de maio, pouco antes
daquele telefonema, entre ele, o sociólogo
Jessé Souza e os jornalistas Fábio Pannunzio,
Florestan Fernandes Júnior e Carla Jimenez,
do “El País”.Um dos tópicos foi uma pesquisa do Datafolha
que apontou que 33% da população continua a
aprovar o governo de Jair Bolsonaro (sem
partido). O estudo também concluiu que a
parcela dos que reprovam a gestão do
presidente subiu de 38% para 43% e a
daqueles que consideram o governo regular
baixou de 26% para 22% — 2% preferiram não
opinar. Ao desânimo que se abateu sobre os
debatedores, todos contrários a Bolsonaro,
Moreira reagiu com otimismo. “Calma aí, vocês
estão falando como se os 30% fossem a
maioria”, argumentou, arredondando os dados
da pesquisa.Em seguida cunhou a expressão que virou sua
rotina do avesso: “Somos 70 por cento”.Transformada por ele em “hashtag”, a frase
“viralizou” no Twitter e no Instagram com mais
força do que expressões criadas por
movimentos de oposição formalmente
instituídos, como Basta e Estamos Juntos.Apartidário, este último chegou a publicar em
jornais seu manifesto. É assinado por políticos
como Fernando Haddad (PT), Marcelo Freixo
(Psol), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme
Boulos (Psol), pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB), pelo governador do
Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e pelo
apresentador Luciano Huck, entre outras
personalidades.
“O Somos 70 por Cento nada mais é que uma
poderosa constatação matemática”, afirma o