Clipping Banco Central (2020-07-31)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Eu & Fim de Semana
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes

documentos que comprovam a temporada de
estudos nos EUA.


“Uma das ‘fakes news’ a meu respeito sustenta
que não estudei naquele país”, diz. Enquanto
exibe um dos documentos, redigido pelo
professor John Conlisk, faz questão de ler, em
voz alta, o seguinte trecho: “Ensinei esse curso
para cerca de 1.500 pessoas ao longo de 15
anos. Mr. Moreira é o melhor estudante que
tive entre os 1.500”.


Por um breve período, o economista fez parte
da mesma folha de pagamentos de um dos
nomes que mais tem criticado, Paulo Guedes.
Até 2009, Moreira foi sócio e diretor regional do
banco do qual o atual ministro da Economia é
um dos fundadores, o Pactual, hoje BTG
Pactual. “Minha passagem por lá coincidiu com
o último ano antes da saída dele”, afirma o
economista, que não teve contato direto com
Guedes. “Lembro que os funcionários tinham
muito medo dele, por ser muito rude no trato
com as pessoas. E que ele tinha a fama de
sempre errar a direção do mercado na hora de
conduzir as próprias operações financeiras.


Mas era muito culto, sofisticado nas
explicações. O banco gostava muito de utilizá-
lo como um vendedor de conhecimento, mas
nunca para dizer os rumos do mercado.”


Moreira diz ter ficado indignado com uma fala
recente de Guedes, em que o ministro apontou
diferenças entre o liberalismo e o socialismo.
“Você se torna um liberal ao longo de muitas
décadas. Fazer um socialista leva cinco
minutos”, disse o ministro. A explicação dele:
“Querer ajudar os outros, isso está nas grandes
religiões, isso está na solidariedade, na
fraternidade, nós nascemos assim”. Em
seguida, disse o seguinte: “O liberalismo é uma
coisa intelectualmente mais sofisticada. Você
tem que compreender que às vezes precisa


justamente reforçar a liberdade pessoal de
empreender, de ter uma opinião diferente da
tribo para você inovar”.

Para Moreira, o ministro está diminuindo
justamente “os valores dos quais mais
carecemos hoje em dia”. “E o que ele chama
de liberdade só tem quem está nessa situação
(aponta ao redor), que mora na mesma
situação que o Guedes. Quem mora em
Sapopemba, em São Paulo, ou na favela da
Maré, no Rio de Janeiro, não pode sair de casa
a qualquer hora, não pode comprar gás de
quem quer e muito menos trabalhar com o que
quer”, diz Moreira. Procurado pela reportagem,
o Ministério da Economia não comentou as
declarações.

“Na cabeça dessas pessoas que não saem de
seus escritórios com ar-condicionado, liberdade
é poder dispor de um CNPJ e empreender
dirigindo para a Uber. Passei anos da minha
vida numa bolha ouvindo essa ladainha do
Guedes o tempo inteiro.”

Moreira deixou o Pactual para ajudar a fundar o
banco de investimentos Brasil Plural, hoje
apenas Plural. O que motivou a saída da última
instituição foi seu oitavo livro, “O que os Donos
do Poder Não Querem que Você Saiba” (2017).
Foi escrito depois de uma agonizante
internação hospitalar a que precisou se
submeter após uma cirurgia malsucedida, a
causa de seis tromboses.

“Nunca senti tanta dor, mesmo tomando
morfina, e olha que já quebrei 33 ossos”, diz
Moreira, que perdeu 12kg até se recuperar.
Sua internação coincidiu com a da filha do
caseiro Eduardo da Silva. Então com 12 anos e
sintomas de apendicite, a menina passou três
dias na fila de um hospital público antes de ser
atendida.
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