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Folha de S. Paulo/Nacional - Saúde
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Tati Bernardi - Carta aberta a


Fernando Reinach


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Autor: Tati Bernardi

Eles sabem que sou a louca do áudio e querem
te proteger

Tati Bernardi
Escritora e roteirista de cinema e televisão,
autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

Querido cientista Fernando Reinach, desde que
comecei a te ouvir no podcast "Luz no Fim da
Quarentena" (da revista piauí, apresentado pelo
sempre genial José Roberto de Toledo),
comecei a pedir seu WhatsApp para alguns
conhecidos. Fiz uma lista enorme de perguntas
para você. Meus contatos mentem, dizendo que
não têm o número. Eles sabem que sou a louca

do áudio (mesmo durante a madrugada) e
querem te proteger. Se antes da pandemia eu já
atormentava médicos e cientistas dispostos a
ouvir minhas neuroses o dia inteiro, você não
sabe do que eu sou capaz agora.

Pobre do Drauzio Varella, que me atura há
alguns anos —muitas vezes através de sua
esposa, a maravilhosa atriz Regina Braga. Acho
que já contei sobre a vez em que, ao me
deparar com o Drauzio em uma festa, abri no
celular a página dos meus exames laboratoriais,
pronta para ir em sua direção. Foi o Bruno
Porto, meu grande amigo, que me salvou
dizendo as quatro palavras mais certeiras e
bonitas da língua portuguesa: "Cara, na boa,
não".

Mas voltando a você, Fernando. Veja minha
situação. Aqui em casa foram dois PCR
positivos para Covid-19. Todos com sintomas
leves, graças a Deus. Acreditando que eu já
estava contaminada por tabela, não colhi exame
na época. Senti dor no corpo, cansaço, dor de
garganta e enxaqueca. Pensei: "Deve ser". E
pensei também: "Bom, eu tenho dor no corpo,
cansaço, dor de garganta e enxaqueca quase
todo dia, há anos, então sei lá". Eu não sei o
que é ser assintomática desde que fiz 30 anos.

Não usei máscara nem luvas dentro de casa.
Tampouco evitei beijar e abraçar. Cuidei do meu
marido e da minha filha. Alimentei, velei o sono,
mediquei e estive, por várias vezes, a cinco
centímetros de espirros enérgicos. Era muito
provável, conforme me disseram meus dois
clínicos gerais, meu infectologista, meu
psiquiatra, meu neurologista, meu ortopedista e
minha obstetra, que eu já estivesse
contaminada.
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