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O Globo/Nacional - País
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
cultura vai se reinventar, o teatro vai
sobreviver. Quem consegue parar o amor, a
paixão e a capacidade de criar? Ninguém para
a paixão.
Em suas viagens pelo Brasil, o colunista
Fernando Gabeira viu essa paixão transformar
cidades antes sem identidade cultural, e que
hoje se destacam no turismo. Ele lembrou do
caso da Praia do Jacaré, na Paraíba, onde o
saxofonista Jurandir do Sax começou a tocar o
"Bolero de Ravel" todos os dias às 18h, e o
concerto diário mudou o lugar.
Atraiu turistas, e a praia passou a ser toda
voltada para isso. Hoje, no cardápio dos
restaurantes, tem até o peixe do Ravel.
Para Gabeira, a cultura sempre foi um dos
importantes ingredientes do soft power (poder
de influência) brasileiro: - O nosso soft power
vem da felicidade, da música e da luta pela
paz, mas isso está se perdendo neste governo.
Para manter a produção cultural, o incentivo
estatal é imprescindível, defendeu Xexéo,
mesmo sob risco de se criar uma dependência
aos humores dos governantes: - Um teatro não
se sustenta só com bilheteria. Acho que o
Estado tem obrigação de promover a cultura.
E o fomento dá resultado, como mostrou a
colunista Patrícia Kogut, ao lembrar da Lei da
TV Paga, que exige que parte da programação
seja dedicada a produções nacionais.
Fomento é a palavra-chave. Em 2011, a Lei da
TV paga fez uma mudança profunda na
produção independente no Brasil. Formou
roteiristas, produtores e público.
PERFIL CRÍTICO
Os recursos para a cultura, contudo, estão
sempre sob risco, chamou atenção Ancelmo
Gois, que mediou o debate. O colunista citou
as tentativas de reduzir os direitos autorais: - A
cultura é importante para a alma, para a
economia. Por que tem tanta gente que não
gosta da gente?
Para a maioria dos participantes, o perfil crítico
da produção cultural motiva os ataques: - Hoje
a cultura é hostilizada por tratar de temas que
não interessam aos governantes. Ela fala de
racismo, do antifascismo, dos diretos das
mulheres - comentou Gabeira.
Xexéo destacou que a "boa cultura não é
conservadora": - Diante de um governo que se
orgulha de ser conservador, isso não é bem
aceito.