Clipping Banco Central (2020-07-31)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Globo/Nacional - Economia
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

MÍRIAM LEITÃO CPMF: Me chame


pelo meu nome


Clique aqui para abrir a imagem

Autor: MÍRIAM LEITÃO

A CPMF tem má fama. Por isso o governo tenta
outros nomes. O ministro Paulo Guedes ora
fala em "imposto digital" ora diz que será sobre
"transações eletrônicas". Na verdade, o governo
está tentando desde o começo trazer de volta o
tributo que provocou muitas distorções. Ele
incidiria sobre todos os pagamentos da
economia, pesaria sobre todas as compras e
transações financeiras, e dos dois lados, o que
na prática vai duplicar a alíquota. O governo
adoça o nome e oferece os prêmios, como a
dizer: tudo isso será seu se aceitares o meu
novo imposto.

A primeira coisa a fazer é apresentar a proposta
e chamar tudo pelo nome certo. A palavra
"digital" soa moderna e parece embutir uma
porta de saída: se eu for analógico, poderei fugir
do imposto? Se fosse isso, seria um incentivo
ao retrocesso e uma punição a qualquer
transação eletrônica. Ou seja, o governo estaria
estimulando a que todos fossem fisicamente aos
bancos, mesmo podendo fazer pagamentos
online, e se dirigissem pessoalmente às lojas,
mesmo preferindo compras online. Não é disso
que se trata, mas se fosse já seria absurdo.

O ministro Paulo Guedes sempre quis introduzir
na economia a proposta do ex-secretário da
Receita Federal Marcos Cintra, desse imposto
sobre pagamentos nos moldes da CPMF.
Quando Cintra foi claro sobre a natureza do seu
projeto tributário, ele foi demitido por decisão do
presidente fair Bolsonaro. Na época, Guedes
lamentou: "Morreu em combate nosso valente
Marcos Cintra." Depois, Cintra disse numa
entrevista que o governo continuava querendo
exatamente aquele imposto. Verdade. A ideia
ainda é a primeira.

A má fama da CPMF vem da experiência de
quem a pagou por dez anos apesar de o "P" ser
de "provisório". Um imposto que engana. Parece
uma pequena alíquota. Alguém pode achar
pouco pagar 0,2%. Mas é sobre todas as
compras, contratações, serviços prestados,
vendas, aplicações, resgates, a infinidade de
transações que ocorre dentro da economia. Até
chegar na sua mão quantas etapas de
pagamentos um produto já cumpriu? O imposto
é cumulativo. É regressivo. Rico e pobre pagam
o mesmo. Vai no caminho oposto do que se
Free download pdf