Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
sábado, 1 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

suficiente para manter as escolas fechadas,
concluiu o matemático, jogando no lixo seu
monumento estatístico em ruínas. De acordo
com o modelo mental hegemônico entre
governantes e especialistas fechados na bolha
da alta classe média, crianças sem aula foram
isoladas em tubos de vácuo: não brincam nas
ruas, não retornam às suas casas e, portanto,
não transmitem o vírus.


Sindicatos de professores concorrem, em
corporativismo, com associações de policiais. A
simples menção à hipótese longínqua de
reabertura escolar deflagra ameaças de
greves. Dirigentes das entidades querem evitar
a volta às aulas até o advento da vacina. O
fenômeno é mundial: um manifesto do sindicato
de professores de Los Angeles lista dezenas
de pressupostos para a reabertura, inclusive a
implantação de um sistema universal de saúde
nos EUA. Esqueceram de exigir a prévia
abolição do papado.


O Plano São Paulo prevê a retomada de aulas
apenas um mês depois de todas as regiões
atingirem em uníssono a etapa amarela. Por
que uma escola paulistana não pode reabrir
enquanto ainda pesam restrições sanitárias em
Araçatuba? João Gabbardo, do centro de
contingência, explicou que o obstáculo não
decorre de critérios epidemiológicos, mas de
uma norma de uniformidade da Secretaria de
Educação.


De fato, um outro vírus, ainda mais contagioso,


controla os portões escolares. O nome dele é
política eleitoral.

Os pais têm medo, um sentimento
compreensível, em parte derivado da
"empolgação" jornalística. Nos dias em curso, a
notícia lateral de que a França foi obrigada a
fechar novamente algumas dezenas de escolas
soterra a informação sobre a reabertura em
segurança de 40 mil escolas. Nesses tempos,
apesar do elogio editorial à ciência, um
matemático empolgado ganha as manchetes
que ignoram pesquisas epidemiológicas
baseadas em evidências.

Na escola, as crianças aprendem a aprender.
Um ano sem aula cobrará preço devastador em
vidas intelectuais e profissionais amputadas.
Bons professores sabem disso â?"e não
precisam curvar-se às ordens dos chefões
sindicais.

Como os médicos e enfermeiros, eles têm o
dever cívico de levantar as mãos, declarando-
se prontos a enfrentar riscos muito menores.
De minha parte, vai aqui uma mensagem de
voluntariado ao governo estadual: estou pronto
a voltar a meus 19 anos, substituindo
professores recalcitrantes em qualquer escola
pública â?"até a vacina.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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