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Folha de S. Paulo/Nacional - Saúde
sábado, 1 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Geringonça autocrática
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Autor: Oscar Vilhena Vieira
Uma estratégia voltada a corroer o Estado de
Direito e a Constituição
Nas últimas três décadas, formou-se um certo
consenso entre economistas, cientistas-políticos
e juristas de que as instituições importam para o
desenvolvimento econômico e político das
sociedades, uma vez que podem contribuir para
estabilizar expectativas, incentivar a cooperação
entre adversários e restringir o oportunismo e a
violência.
Quando bem concebidas são capazes,
inclusive, de transformar vícios privados em
bem público. É o caso do sistema de freios e
contrapesos, onde a ambição e mesmo a
vaidade daqueles que ocupam postos no
parlamento e nos tribunais contribuem para
colocar limites e controlar aqueles que, no
governo, têm a espada e a bolsa a seu dispor.
Isso não significa que as pessoas sejam menos
importantes, pois, no final do dia, elas é que
operam as instituições. Por melhor que seja o
desenho de uma determinada instituição, se ela
for ocupada por pessoas incompetentes ou
avessas às suas funções e finalidades, tendem
à inoperância e deterioração.
Impedido pelo jogo institucional de criar um
regime autocrático por meio da alteração de leis
e dispositivos constitucionais, como ocorreu na
Hungria, na Turquia, na Polônia e mesmo na
Rússia e na Venezuela, o atual governo tem
investido em subverter a ordem constitucional
pela nomeação de autoridades incompetentes
e/ou dispostas a comprometer e sabotar as
instituições sob o seu comando. Trata-se de
montar uma espécie de gerigonça autocrática,
voltada a corroer o Estado de Direito e inibir a
eficácia da Constituição.