Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Carta Capital/Nacional - Capa
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - FMI

resistência. É preciso vencer a barreira das
grandes empresas que dominam o mercado.”


Negravat sabe que o setor cultural será o
último a reabrir. Por isso, não tem esperança
de encontrar trabalho no seu ramo até o fim do
ano, nem perde mais tempo procurando algo.
Assim, mesmo se fosse entrevistada por um
pesquisador do IBGE, dificilmente entraria na
estatística oficial de desemprego aberto. O
instituto considera desempregado apenas
quem está desocupado e procurou trabalho nos
30 dias anteriores à semana em que os dados
foram coletados. Por conta desse critério, o
“faz-tudo” Igor Luís Víctor da Silva, de 40 anos,
também ficaria fora. Desde que perdeu o
emprego no setor administrativo de uma
transportadora em novembro de 2017,
curiosamente o mesmo mês em que a reforma
trabalhista de Michel Temer entrou em vigor,
ele nunca mais encontrou emprego na sua
área. Sobrevive de bicos.


Foi a necessidade que o obrigou a desenvolver
múltiplos talentos. Quem o vê com as mãos
sujas de graxa na oficina de um amigo, no
Bairro do Limão, Zona Norte da capital paulista,
não imagina que o trabalhador encarnou o
papel de garçom de buffet, auxiliar de cozinha,
churrasqueiro de festas e faxineiro. Todos
trabalhos informais, sem direitos nem
benefícios. O único emprego com carteira
assinada que conseguiu nos últimos dois anos
foi como repositor de mercadorias em um
supermercado. Durou pouco. “Fiquei 43 dias no
serviço. Aí veio a pandemia e fui incluído na
primeira leva de demitidos.” A mulher, diarista,
também perdeu a maior parte de sua renda. De
todos os clientes, fixos ou eventuais, apenas
um se dispôs a manter os pagamentos. Trata-
se de instituição religiosa, que também tem
oferecido cestas básicas à família em apuros.
“Tenho dois filhos, não posso depender apenas
do auxílio emergencial. Minha caçula, de 11


anos, está estudando em casa, a distância.
Não dá nem para cancelar a internet para
aliviar o orçamento.”

A perspectiva é desoladora. Por causa da
dificuldade de realizar as entrevistas em meio à
pandemia, o IBGE adiou a divulgação dos
dados do desemprego em junho, que seriam
revelados na quarta-feira 29. A última pesquisa
apontava uma taxa de desocupação de 12,9%
no trimestre encerrado em maio, ou 12,7
milhões de brasileiros, com o fechamento de
7,8 milhões de postos de trabalho em relação
ao trimestre anterior. Os especialistas alertam,
porém, que o indicador está subestimado, pelo
gigantesco número de desalentados, brasileiros
que querem trabalhar, mas desistiram de
procurar emprego.

Com o fim do distanciamento social e do auxílio
emergencial, o desemprego deve alcançar ao
menos 16% da população, projetam diferentes
analistas. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o
secretário de Política Econômica do Ministério
da Economia, Adolfo Sachsida, reconheceu
que a taxa de desocupação deve ter um
repique em setembro. “O desemprego já
aumentou, os dados é que não mostram isso”,
admitiu. “Muitas pessoas que perderam o
emprego estão classificadas hoje como
população fora da força de trabalho, pela
metodologia do IBGE. Elas não o procuram
porque sabem que não adianta. Tão logo
reabra a economia, o desemprego vai dar um
pulo.”

O mercado de trabalho deteriora-se de forma
acelerada. Entre o início de maio e a primeira
semana de julho, o Brasil perdeu 2,1 milhões
de ocupações, segundo a Pnad Covid-19,
pesquisa do IBGE para mensurar os impactos
da pandemia na economia e na saúde. Com
isso, o nível de ocupação chegou ao menor
índice da série histórica. Apenas 48,1% dos
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