Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

capital de São Paulo. Ao mesmo tempo, revela
o enclave, talvez inesperado, de uma ideia
coerente, de um pensamento voltado para a
redenção de um povo até hoje humilhado e
ofendido.


Impossível imaginar o futuro, ou seja, o efeito
de uma consigna esquerdista em uma
metrópole que prima pelo reacionarismo há
muito tempo. Mesmo assim esta fala insólita
nas nossas latitudes ganha necessariamente
uma dimensão nacional. Verbo nítido e preciso,
capaz de ecoar bem além do perímetro de uma
metrópole tradicionalmente entregue às
vontades da casa-grande. Está claro que o
pensamento de Boulos galga o primeiro degrau
de uma escada que leva à percepção nacional
de uma figura por ora tida como local, a
despeito dos resultados excelentes colhidos até
o momento, a partir da liderança do Movimento
dos Sem Teto.


Personagem de extrema determinação, e
também sábio na administração das energias
morais e intelectuais, para mostrar a
consistência de expressão fluente de um jovem
de 37 anos. Diriam os velhos sentados em um
capítulo de um livro de John Steinbeck,
enquanto riscam o chão com suas bengalas:
“Este moço vai longe”. Nesta longa conversa só
me surpreendeu, e me doeu um pouco, a
referência a Mussolini, tão comum na boca de
quantos se supõem analistas agudos.


A fala do candidato,insólita nas nossas
latitudes,ganha dimensão nacional
Não há qualquer possibilidade de comparação
entre a Itália da primeira metade do século
passado e o Brasil atual. A seu modo, a
península arcou com o mesmo papel da Grécia
da Antiguidade, país desunido em cidades-
Estado que permitiram o florescimento da
Renascença ainda no final do século XIII, para
iluminar o resto da Europa dois séculos depois,


mas incapaz de resistir às invasões de Estados
estrangeiros. Somente unificada, de fato,
depois da Primeira Guerra Mundial, da qual
participou e perdeu 600 mil homens, embora
tratada pelos aliados como time da segunda
divisão.

Neste clima surgiu Mussolini, que pretendia
tornar seu país grande potência, aliou-se a
Hitler e seguiu-lhe os passos até a derrota. É
claro que muitos italianos empolgaram-se com
a retórica provinciana do Duce, mais muitos
outros ficaram revoltados. Ditador feroz,
mandou matar o líder socialista Giacomo
Matteotti, manteve Antonio Gramsci, grande
figura do Partido Comunista surgido um ano
antes da Marcha sobre Roma, preso por 11
anos, até a morte, enquanto Benedetto Croce
fechava-se em sua casa napolitana, da qual
somente sairia quando uma revolta popular
expulsou os alemães da cidade invadida.
Milhares de opositores foram trancafiados em
campos de concentração e outros milhares
fugiram para o exterior, políticos, intelectuais,
artistas e também cidadãos comuns, como os
pais de Pierre Cardin, então menino, e de Ivo
Livi, o futuro Yves Montand. Os judeus italianos
foram remetidos para os campos de extermínio
nazistas e Mussolini também comandou o
assassínio daqueles companheiros que
considerava traidores, entre eles Italo Balbo,
abatido por fogo amigo no céu de Tobruk, e o
genro Galeazzo Ciano. Mussolini terminou
fuzilado pelos guerrilheiros de uma revolução
que ensanguentou o país. Conhecer um pouco
da história moderna europeia, eventualmente
ler Antonio Gramsci e, quem sabe, Fernand
Braudel e Benedetto Croce não faz mal a quem
quer que seja. A íntegra desta conversa entre
amigos está no site de CartaCapital desde a
segunda-feira 27.

A periferia esquecida
Os principais tópicos de uma longa conversa
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