Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

entre amigos


POR QUE CONCORRER


Esta eleição, no meu ponto de vista, e também
na visão de Luiza Erundina, tem um objetivo
muito importante, para além de discutir políticas
urbanas, para além de apresentar um projeto
de combate à desigualdade que resgate a
esperança, já que Bolsonaro, antes de tudo, é
um destruidor de esperanças, ele faz política
na base do medo e do ódio, catalisando esses
sentimentos. Foi assim que ele ganhou as
eleições de 2018. Esta eleição tem o objetivo-
chave de derrotar o bolsonarismo. O clima
social brasileiro de 2018 para cá sofreu
importantes mudanças, o sentimento da
população nas ruas, nas periferias, não é igual
àquele de 2018, quando Bolsonaro se elegeu
com 57 milhões de votos. Ele prometeu o
combate à corrupção, manejou o sentimento de
antipolítica generalizado no povo brasileiro e
vendeu um peixe podre. Um ano e meio
depois, isso já está claro para muita gente. O
argumento do combate à corrupção hoje foi
derrubado com o motorista Queiroz, com a
milícia, com o laranjal, com as negociatas mais
escusas no esgoto do poder, com a
instrumentalização do público por uma família.
(...) Quem acreditou que Bolsonaro poderia
mudar tudo e melhorar a vida dos brasileiros
levou na cabeça. Principalmente com a reforma
da Previdência, mais desemprego,
precarização do trabalho, além da atuação
desastrosa dele na maior crise da nossa
geração, que é a pandemia do coronavírus.
Então, o clima social brasileiro mudou, as
pesquisas mostram isso, as redes mostram
isso, as ruas mostram isso. Agora, esta
mudança e esta insatisfação das pessoas
precisam se traduzir em mobilização, pois este
não é um processo simples, nem no Brasil,
nem em outras partes do mundo. (...) A Itália,
por exemplo, ficou 21 anos sob Mussolini, sem
que o povo tenha se levantado para derrubá-lo.


CASA-GRANDE E SENZALA


São fenômenos históricos diferentes, mas,
francamente, eu não estou entre aqueles que
acreditam que o povo brasileiro repousa no
berço esplêndido da passividade. Eu vivo na
periferia de São Paulo, atuo há quase 20 anos
num dos maiores movimentos sociais do Brasil
e, muito embora os tempos de reação popular
estejam longe do nosso desejo e da nossa
expectativa, temos processos de insatisfação
sedimentando e outras mobilizações. (...)

Eu tenho muita sintonia com a interpretação do
Mino, de que a elite brasileira, a nossa
estrutura social, carrega consigo o DNA da
casa-grande. Isso se expressa em toda forma
de fazer política, de organizar a sociedade. O
Brasil é o país do quarto de empregada, é o
país do elevador de serviço. São Paulo, onde
essa elite está encastelada, carrega o bairro de
Higienópolis, o qual surgiu, inclusive, como um
cordão sanitário e social, usando como pretexto
as epidemias do início do século XX, de febre
amarela, de varíola etc. Foi nesse bairro que a
elite cafeeira se refugiou para se distanciar dos
pobres. Higienópolis foi construído a partir de
uma polícia sanitária que tinha a função de
derrubar cortiços, as quais eram chamadas de
habitações anti-higiênicas e, nesta lógica
higienista, jogaram os pobres para os fundões,
para os rincões das periferias. Na verdade,
temos no Brasil uma abolição nunca concluída,
pois a escravidão formal e legalizada
converteu-se em racismo estrutural, em que
130 anos depois os negros ganham 60% do
salário médio dos brancos, a própria
redemocratização, após 21 anos de ditadura
civil-militar, também foi um processo nunca
concluído, que levou, inclusive, à ascensão do
bolsonarismo como o resíduo dessas
transições por cima, que no Brasil é a velha
forma de dar o anel para não perder os dedos,
e das transições elitistas que excluem a
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