Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

senzala.


DEMOCRACIA, ORA, A DEMOCRACIA


Nós nunca tivemos uma democracia plena nem
antes, nem depois da chamada
redemocratização. A crença de que não há
mudança nem confronto é o que pauta a minha
atuação sempre. (...) Foi o que me levou a
atuar no Movimento Sem Teto, caracterizado
pelo confronto em relação às estruturas
arcaicas de propriedade no Brasil. É por isso
que esse mesmo movimento, nos últimos anos,
esteve à frente de lutas sociais nas ruas e
enfrentamentos da direita brasileira, para tornar
clara a importância de romper com a lógica das
transições por cima. (...) Existem diferentes
níveis de democracia, porém, eu não acredito
numa democracia plena sem democratização
social e econômica. Desse ponto de vista
estrito, radical, o Brasil nunca teve uma
democracia verdadeira, nunca, em nenhum
momento de sua história. (...) A Constituição de
1988 foi um grande pacto por cima. A chamada
redemocratização que se seguiu ao fim da
ditadura também foi um pacto, do qual a
maioria do povo não fez parte, e que seguiu
excluindo da agenda nacional os temas que em
1964, na voz de Jango Goulart, no Comício da
Central do Brasil, ensejaram o golpe. Porque
não houve, mesmo após a redemocratização,
as ditas reformas estruturais, a reforma agrária,
a reforma urbana, a reforma do sistema
financeiro, as reformas de base, e a reforma
tributária para que os super-ricos começassem
a pagar a parte da sua conta no Brasil, mas
nada disso aconteceu. Então eu partilho da
ideia de que, sem democracia social e
econômica, a democracia política é muito
limitada, mas envolve alguns direitos dos quais
não podemos abrir mão.


O ERRO DO PT


Acho que precisamos entender de uma vez por
todas que se fechou, entre 2014 e 2016, um


ciclo em que era possível fazer políticas
públicas, garantir alguns avanços sociais
importantes, inegáveis, sem enfrentar os
privilégios da casa-grande. Há momentos na
história, por conjuntura econômica, por
correlação de forças políticas, em que se pode
ter avanços nos direitos sociais, ter melhorias
na vida do povo, mantendo o status quo, sem
tirar nada dos de cima, garantir algo para os de
baixo sem arrancar nada dos de cima. Estou
falando do que foi a estratégia, sobretudo dos
governos petistas, liderados pelo Lula e pela
Dilma, que foram governos que fizeram
políticas públicas, melhoraram a vida dos mais
pobres e ao mesmo tempo não se
comprometeram com as reformas de base,
com as mudanças estruturais. (...) Esse tipo de
conjuntura, de janela na História, acontece de
tempos em tempos, sobretudo quando você
tem momentos de algum tipo de crescimento
econômico, em que, por manejo orçamentário,
à medida que a arrecadação pública cresce, é
possível fazer políticas públicas sem mudar a
estrutura do Estado brasileiro e as relações
sociais do País. Mas, isso são períodos de
curta duração, e foi por isso que, eu acho,
faltou entendimento, sobretudo para o PT, de
que essa lua de mel acabaria em algum
momento.

A CIDADE DOS MUROS


São Paulo é construída historicamente como a
cidade dos muros, o grande tema desta capital,
como do Brasil todo, aliás, chama-se
desigualdade. Qualquer um que queira fazer
um governo popular, que queria construir com
compromisso visceral com os de baixo, precisa
ter como ponto zero o combate à desigualdade.
Agora, isso não é algo trivial, mas
simplesmente uma obviedade. A desigualdade
em São Paulo toma contornos geográficos.
Então, nós temos, na maior cidade do Brasil,
dois mundos, separados por pontes, divididos
por muros, de um lado fica a periferia, onde o
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