Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

registram indica o partido com o qual eles se
identificam (assim se habilitando, na quase
totalidade dos estados, a participar das prévias
partidárias para a escolha de candidatos). Isso
significa que os institutos de pesquisa dispõem
de listas, por circunscrição eleitoral, com os
nomes e contatos dos eleitores, sabendo seu
partido ou se são “independentes”. Os eleitores
registrados são cidadãos que escolheram
participar do processo eleitoral, e que se
sentem motivados e em condições de votar.


Gente com esse perfil dispensa o estímulo da
presença física do entrevistador para falar a
respeito de temas políticos e não é complicado
contatá-las por telefone (até porque o acesso à
telefonia é quase universal por lá). Mesmo
assim, os norte-americanos assistem a uma
crescente revalorização das entrevistas
pessoais, as que mais bem captaram as
intenções de voto na eleição presidencial de
2016.


Vivemos em outro mundo no Brasil. Todos
somos obrigados a votar, mesmo quem tem
baixo ou nenhum interesse por assuntos
políticos, que representam mais de 50% do
eleitorado e perto de 80% dos cidadãos de
baixa escolaridade. Ainda é grande a parcela
da população sem acesso ao telefone,
concentrada entre os mais pobres. É vasta a
proporção dos que não têm computadores,
bons aparelhos celulares ou familiaridade com
seu uso, especialmente, de novo, entre os
pobres.


Imaginar que, na nossa realidade, é possível
obter, por meio de pesquisas indiretas,
amostras representativas do eleitorado é uma
fantasia. Nem usando a telefonia celular, opção
menos ruim: encontrar alguém sem interesse
por política que aceita conceder uma entrevista
e interrompe seus afazeres para ficar falando
ao celular por 20 minutos ou meia hora, sem o


estímulo da presença física do entrevistador e
sem nada que o encoraje a responder, é
procurar agulha no palheiro. As amostras
conseguidas precisam ser “consertadas”, por
meio de ponderações estatísticas drásticas em
algumas faixas do eleitorado, “inchando” umas
e “desinchando” outras.

Temos ampla evidência, baseada em
pesquisas com amostras efetivamente
representativas, de que questões como a
avaliação do governo, da política econômica, a
imagem de lideranças e as intenções de voto
são correlacionadas com a classe social e as
condições de vida. Ricos gostam mais de
Bolsonaro do que pobres, brancos do que
negros, universitários do que brasileiros de
baixa escolaridade. Lula e o PT são mais bem
avaliados pelos mais pobres, os negros e os
menos escolarizados.

Por telefone, a pesquisa tende a super-
representar os primeiros e sub-representar os
segundos. Tende, portanto, a ser mais
favorável ao capitão e mais desfavorável ao ex-
presidente. Não há estatística que corrija o
viés. Vamos fazendo o que dá para fazer hoje
em dia, mas é preciso não esquecer que o
retrato que sai das pesquisas atuais é
impreciso e distorcido, sistematicamente, em
favor de uns e em detrimento de outros. Quem
se esquece disso é quem acha que dá para
conhecer a imagem do Corinthians ouvindo
palmeirenses.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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