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Revista Época/Nacional - Vivi para contar
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Anderson Sanchez, em depoimento a
Juliana Castro
Jornalista que trabalhou em Bangu 8
presenciou a vida no cárcere de alguns dos
homens mais poderosos do Rio de Janeiro
Aos 21 anos, em 1997, eu passei no concurso
para ser agente de segurança penitenciária.
Entrei com a intenção de trabalhar para pagar
os estudos e depois seguir a carreira de
jornalista. Hoje, além de ser policial penal, faço
assessoria de imprensa dos sindicatos e virei
pesquisador. Já trabalhei em Bangu 5, onde
ficam os presos de umas das facções do Rio
de Janeiro, e Bangu 3B, tido como o mais
perigoso, onde ficam os líderes das facções.
Comecei a trabalhar em Bangu 8 no segundo
semestre de 2015. Vi passar por lá o
empreiteiro Fernando Cavendish e o banqueiro
André Esteves, do BTG Pactual, que acabou
sendo absolvido depois. No dia 17 de
novembro de 2016, chegou o ex-governador
Sérgio Cabral, que acompanhei por seis meses
e meio. Nesse dia, já começaram a circular nas
redes sociais algumas fake news. Tudo que ele
fazia era notícia.
Eu trabalhava na administração da unidade.
Sabíamos que haveria uma certa pressão, sim,
em custodiá-lo. Houve um tratamento
diferenciado num primeiro momento, com
deputados que davam carteirada no governo e
no secretário para ver Cabral. A gente só era
comunicado da entrada deles. O próprio diretor,
Alex Carvalho, não tinha ingerência.
Conto os bastidores dessas e de outras
histórias no livro que escrevi (“O carcereiro do
Cabral — Verdades e mentiras sobre a vida do
ex-governador em Bangu 8”, publicado pela
editora Máquina de Livros). O livro tem não só
histórias que presenciei, mas relatos de outros
colegas que lidavam com Cabral.
No início da noite do primeiro dia dele em
Bangu 8, Cabral chorou. No Jornal Nacional,
foram 17 minutos de reportagens sobre a
prisão. Ele estava ouvindo porque a cela de
triagem, onde ficam os presos que chegam,
ficava próxima à sala da inspetoria, onde havia
TV. Ele disse que estava triste porque o filho
faria primeira comunhão e não poderia estar
presente. Ele chorou outras vezes. No dia em
que a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo foi
presa, o filho dele, Marco Antônio, estava em
Bangu. Quando Marco Antônio saiu, um policial
ouviu a notícia sobre a prisão dela e lhe contou,
e ele voltou para comunicar ao pai. Cabral
começou a gritar, como se estivesse
desesperado.
Ele chegou a Bangu 8 com uma mochila preta
que aparece com ele nas fotos do dia da
prisão. Tudo foi separado. Ele entrou com um
livro e remédios. O resto, não podia. Tinha na
carteira R$ 1 mil, quando o valor-limite é R$
100 por semana, para o preso poder comprar
coisas na cantina. Os óculos escuros da marca
Cartier também ficaram para trás.
Ele estava num terreno desconhecido. Quando
chegou, lembrou de algumas políticas que fez
para o sistema penitenciário em sua própria
gestão. De fato, houve uma melhora. Ele
implantou o plano de cargos e salários e, na
gestão dele, houve uma parceria com o
governo para a transferência dos líderes de
facção para os presídios federais, o que ajudou
o sistema a ficar mais tranquilo. Eu mesmo
votei duas vezes no Cabral e depois no
sucessor dele, Luiz Fernando Pezão. O ex-
governador chegou altivo, parecia que a ficha
não tinha caído. Quando chegaram da Polícia