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Revista Época/Nacional - Vivi para contar
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Federal os outros presos da Lava Jato que
foram alvo da mesma operação que ele, pediu
para dar água para eles. O colega até
comentou: “Ele está pensando que está no
palácio”. Mas serviu a água.
Cabral é comunicativo, carismático e educado.
Se ele tinha arrogância, podia ser com os
presos. O ex-prefeito de Mangaratiba Evandro
Bertino Jorge, o Capixaba, foi preso e ficou na
mesma cela que Cabral. Ele dizia que o ex-
governador e o Hudson Braga (ex-secretário de
Obras que foi preso também na Operação
Calicute) não recebiam prefeito de cidades
pequenas no palácio. Se fosse num colégio,
Cabral poderia reclamar que sofria bullying, já
que o ex-prefeito imitava seus trejeitos,
reproduzia seus gestos, como parar com a mão
na cintura.
Certa época, parecia que ele não estava
enturmado. Uma vez, alguém pegou uma
charge do jornal Extra, acrescentou a imagem
da Adriana e colocou na academia. Cabral não
gostou, reclamou com o chefe de segurança.
Ele ia bastante à academia. Tinha um preso
professor de educação física que passava os
exercícios e chegou a fazer um programa
nutricional para o ex-governador. Quando as
pessoas assistiram aos depoimentos e viram
que ele estava magro, era por isso.
Na prisão, ele tinha uma vida normal.
Acordava, tomava café, ia para a academia.
Ele ia bastante à capela porque ele também
gostava, para ouvir a homilia, já que é católico.
Cabral também lia muito. Um dos livros que o vi
lendo foi Grandes homens do meu tempo, de
Winston Churchill. Mas ele não dormia na
biblioteca, como publicaram em algumas
postagens nas redes sociais.
Ele chegou a receber uma comida diferenciada.
As famílias podem levar comida aos presos
dentro do limite estabelecido. São regras iguais
para presos diferentes. Se a família do Cabral
tinha condições de levar uma comida de um
restaurante mais chique, podia levar. Assim
como a família de outro preso de poder
aquisitivo mais baixo levava a comida caseira.
Isso era permitido. Depois que houve uma
denúncia do Ministério Público, na época da
intervenção federal na Segurança Pública,
houve mudança restringindo a entrada de
comidas importadas ou mais diferenciadas.
Quando sobra comida, os presos podem levá-
la para a cela. É por isso que existe um cooler
(improvisado, de papelão). Eles recebem gelo
todo dia, compram com o dinheiro que podem
ter por semana. Assim, também podem
comprar um refrigerante na cantina e colocar
no cooler para beber ao comer à noite.
O que houve de tratamento diferenciado com
Cabral foi imposto mais por fora, por forças
externas. A carteira da Adriana para visita saiu
em menos de dez dias. Só não bateu o recorde
da esposa do André Esteves, que saiu em três
dias. Normalmente, demora de dois a três
meses. No caso das carteiras, a Secretaria de
Administração Penitenciária justificava que os
documentos haviam sido entregues
corretamente. Mas, mesmo para quem está
com tudo certo, há uma fila. Ela não passou
pela fila, a ficha dela foi colocada na frente.
E tem as carteiradas dos deputados. Havia
uma sala que era usada como refeitório por
nós, os funcionários. Cabral recebia os
deputados ali e os advogados também.
Alegava que, por causa das tratativas da
delação, não podia ficar no parlatório. Ele era
atendido lá por determinação do então
secretário de Administração Penitenciária, Erir
Ribeiro. O ex-governador chegou a pedir um
laptop para a promotora que fazia a
fiscalização no presídio para escrever a