OFICINADEMUMIFICAÇÃO 75
Em épocas posteriores, os túmulos do Impé-
rio Novo foram reutilizados para sepultamentos
em massa. O de Maia, por exemplo, acolheu qui-
nhentos cadáveres, colocados sobre esteiras de
junco ou arcas de madeira. Corresponde a esta
época também o centro de serviços fúnebres en-
contrado por Ramadan Hussein, cuja descoberta
proporciona dados importantes sobre as práticas
quotidianas dos profissionais funerários, as suas
técnicas de mumificação e os seus objectivos.
No complexo, foram erguidos grandes templos
como o Serapeum, que acolhia um culto subter-
râneo relacionado com a figura do boi Ápis. Mais
tarde, os touros sagrados seriam acompanhados,
na Época Greco-Romana, por outros animais.
Em Sakara, há construções no subsolo onde fo-
ram sepultados milhões de múmias de animais:
de cães (para homenagear Anubis) a gatos (Bas-
tet), passando por íbis (Tot). Para esta actividade
ritual, foi criado um autêntico processo indus-
trial, que incluía criação de animais e fábricas de
mumificação. Sakara permaneceu em uso como
um local de sepultamento e adoração até ao pe-
ríodo romano. Com o fim dessas actividades fu-
nerárias, a areia do deserto foi-se acumulando
século após século.
Primeiras descobertas
Em 1798, quando Napoleão iniciou uma campa-
nha (que terminaria em fracasso) para conquis-
tar o Egipto, levou cientistas e artistas encarrega-
dos de registar tudo o que vissem. Os seus relatos
desencadearam na Europa uma verdadeira egip-
tomania. Todos desejavam ter artefactos pro-
venientes dali, de jóias a múmias. Os caçadores
de tesouros tinham então o caminho livre e en-
contravam nos numerosos templos e necrópoles
egípcios uma rica fonte de rendimento.
Fólio 24 do Livro
dos Mortos de Kenna,
com 17 metros
de comprimento.
Aqui figura o feitiço
para o ritual de
embalsamamento.
Ao centro, vê-se Anúbis
a cuidar da múmia
na câmara funerária.
Em baixo, um chacal
vigia o sarcófago.
Papiro das XVIII-XIX
dinastias, possivelmente
de Sakara.
RMO