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A teoria microbiana
altera tudo
No século XIX, porém, à medida que os micros-
cópios se tornavam mais efi cazes e mais genera-
lizadamente disponíveis, outros investigadores
começaram a vislumbrar o mundo dos micror-
ganismos. A ideia de que microrganismos espe-
cífi cos podiam causar doenças infecciosas espe-
cífi cas foi-se tornando mais convincente.
Hoje em dia, a história tende a homenagear
dois homens, Louis Pasteur e Robert Koch, como
pais da teoria microbiana, esquecendo-se dos
pioneiros cujo trabalho eles utilizaram. No en-
tanto, Pasteur e Koch foram mestres da ciência
experimental, meticulosos no método, e geniais
na escolha do percurso certo que conduz de
uma experiência à seguinte. Detestavam-se mu-
tuamente, como rivais no mesmo domínio de
descoberta e também como patriotas em tempo
de guerra entre os seus dois países, a França e a
Alemanha. Mas os seus avanços decisivos trans-
portaram a humanidade para o mundo novo e
milagroso da teoria microbiana.
Pasteur era um químico, não um médico, e a
sua perspectiva exógena revelou-se útil na supe-
ração das crenças médicas convencionais. Um
dos estudos que conduziu na década de 1850 co-
meçou com um objectivo prático: pretendia aju-
RobertKoch
dar um fabricante local a identifi car a causa de
um sabor desagradável em certos lotes de álcool
de beterraba. Pasteur descobriu rapidamente
o culpado, um determinado tipo de bactérias,
e recomendou que o sumo de beterraba fosse
aquecido para impedir que esse sabor surgisse
de novo. Terá sido o início da pasteurização.
Pasteur analisou em pormenor cada etapa
da fermentação. Não se tratava de um processo
puramente químico, ao contrário do que mui-
tos pensadores “modernos” acreditavam então,
mas sim de um processo biológico: a levedura,
um organismo vivo, consumia os nutrientes pre-
sentes na infusão, transformando-os em álcool e
outros produtos. O trabalho sobre a fermentação
incentivou Pasteur a ver microrganismos em
toda a parte e a demonstrar que eles resultavam
da reprodução biológica e não de geração espon-
tânea. Prosseguindo o seu trabalho, deu um ex-
traordinário salto intuitivo: tal como causavam
a fermentação, os minúsculos seres vivos pode-
riam também provocar doenças infecciosas.
Louis Pasteur autopromovia-se de forma
entusiástica. Apresentava as suas descobertas
numa linguagem arrojada e angariava apoios
para o seu trabalho entre a elite francesa.
CAPÍTULO TRÊ Finais do século EUROPA Os micróbios causam doenças
Durante anos, foram apresentadas
versões da ideia segundo a qual as
doenças eram causadas por “ani-
málculos” ou germes. Durante algum
tempo, os promotores da medicina humoral e da
teoria da sujidade silenciaram essas vozes.