National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

(Antfer) #1
66 NATIONALGEOGRAPHIC MAPA: SOREN WALLJASPER E MATT CHWASTYK;
FONTE: MINISTÉRIO EGÍPCIO DAS ANTIGUIDADES

Mastaba de
Ankhmahor

Mastaba de Mereruka
Pirâmide de Téti

Pirâmide de Userkaf

PirâmidededegrausdeDjoser

GrandePátiodoSul PátiodoHeb-sed
TúmuloMeridional
PirâmidedeUnas
Corredor

de
Unas

Mosteirode
PirâmideSekhemkhetde SãoJeremias

Mastaba de
Akhti-Hotep
e Ptah-Hotep

Círculo dos Filósofos
Serapeum

Mastaba de Ti

Oficinamumificaçãode

DE


NECRÓPOLE


SAKARA


Estrada
pavimentada

100 m

UMA ANTIGA


NECRÓPOLE
A cerca de trinta quilóme-
tros do Cairo, as ruínas de
Sakara acolhem uma oficina
de mumificação recém-
-descoberta que ajuda
a explicar as práticas
funerárias dos
antigos egípcios.

ÁFRICA

EGIPTO


EGIPTO

Sakara

DESERTO

DO SAARA

NILO

Cairo

nosso conhecimento.” As descobertas de Sakara
estão a contribuir para preencher essa lacuna, diz
Hussein. “Pela primeira vez, podemos falar em ar-
queologia do embalsamamento.”
Convictos de que o corpo teria de permanecer
intacto para albergar a alma após a morte, os an-
tigos egípcios consideravam o embalsamamento
um rito sagrado. O processo era cuidadosamente
orquestrado, com ritos e orações específi cos para
cada um dos 70 dias necessários à transformação
de uma pessoa morta em múmia.
Primeiro, os órgãos internos eram removidos e
colocados em recipientes denominados vasos de
vísceras. De seguida, procedia-se à desidratação
do corpo, através de sais especiais como o natrão.
O falecido era então ungido com óleos fragrantes e
envolto em panos. Vários amuletos eram aconche-
gados entre as dobras do tecido. Por fi m, a múmia
era depositada no seu local de descanso, num tú-
mulo com provisões para a vida após a morte, tão
requintadas quanto a sua fortuna pudesse comprar.
As pirâmides dos faraós e o ouro do túmulo do
rei Tutankhamon são lembranças de quão longe
os egípcios ricos estavam dispostos a ir para asse-
gurarem a transição para a eternidade. “Era uma
indústria colossal”, diz Ramadan Hussein.

“Para a evisceração poder realizar-se lá em
baixo, teria de se garantir a circulação do ar para
eliminar os insectos”, comenta Ramadan. “Nós
próprios precisamos de um movimento constan-
te do ar quando estamos a mexer em cadáveres.”
Ao longo do último ano, peritos em cerâmica
conseguiram juntar os fragmentos, reconstruindo
centenas de tigelas e vasos, todas com etiquetas de
identifi cação gravadas. “Cada copo ou tigela tem o
nome da substância guardada no interior” e o mo-
mento em que deverá ter sido utilizado no proces-
so de embalsamamento, diz o arqueólogo. “As ins-
truções estão escritas directamente nos objectos.”

ESTE ACHADO FOI uma bênção para os especialistas
em práticas funerárias do Antigo Egipto, pois for-
neceu uma perspectiva única sobre os ritos sagrados
e as realidades sombrias da mumifi cação. Embora
exista abundante documentação sobre este pro-
cesso sofi sticado nas fontes antigas e até represen-
tações artísticas nas paredes dos túmulos egípcios,
tem sido difícil encontrar provas arqueológicas.
“Poucas ofi cinas dedicadas ao processo fo-
ram devidamente escavadas”, diz Dietrich Raue,
curador do Museu Egípcio da Universidade de
Leipzig. “Isto produziu uma grande lacuna no
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