Elle - Portugal - Edição 382 (2020-08)

(Antfer) #1

144 ELLE PT


FOTO: XIMENA MORFIN - REALIZAÇÃO: CAROLINA ALVAREZ

BELEZA


PADRÕES E IDEAIS
A origem do motivo pelo qual lhes atribuímos uma cono-
tação tão negativa não é conhecida, é só algo que acontece
com quase todas as características que não obedecem ao
padrão de beleza ao qual a sociedade responde. No entanto,
não podemos negar que este padrão está tão enraizado na
nossa sociedade que a maior parte das vezes atingem-nos de
uma forma silenciosa. «Nunca tive ninguém a olhar para as
minhas estrias e dizer “que nojo, que horrível”, mas estava
presente em grupos de pessoas que falavam sobre as estrias e
sobre quão horríveis eram e quão mal ficavam nas pessoas»,
exemplifica Catarina. Este tipo de comentários indiretos
surgem, na sua maioria, fomentados pelos media. Nos úl-
timos anos temos assistido a uma tentativa de mudança do
paradigma, mas as mulheres participam nestas conversas de
que fala Catarina desde muito novas, talvez antes do período
da adolescência, onde 70% das mulheres já vão ter estrias.
A falta de representação e inclusividade já são tópicos de
discussão frequentes, não só no que diz respeito à utilização
das ferramentas de edição de imagens – que notoriamente
apagam qualquer sinal de “imperfeição” do corpo humano


  • mas também na escolha de pessoas que marcam presença
    nas páginas das revistas. No entanto, uma pesquisa rápida
    pela internet mostra-nos que a palavra “estrias” tem mais
    de 15 milhões de entradas e a primeira página no Google
    está repleta de dicas para atenuar, tirar, disfarçar ou prevenir
    estas cicatrizes e nem uma entrada sobre como aceitá-las,
    valorizá-las ou normalizá-las.
    É urgente reconhecer que «não há ninguém que tenha
    uma vida constante. Os picos emocionais da nossa vida
    também vão ter um reflexo no nosso corpo,» refere Catarina.
    Relacionando diretamente com as percentagens apresentadas
    anteriormente, as estrias aparecem em fases de desenvolvi-
    mento físico e emocional, e são uma representação visual da
    história individual de cada um. Isto provavelmente nunca
    foi documentado visualmente e, desta forma, não foi possível
    mudar a narrativa até a este momento.
    Já referimos que a estria é uma cicatriz, por isso, não desa-
    parece, por muitos cremes que sejam aplicados. No entanto,


a hidratação é, sem dúvida, muito importante. No caso das
estrias em específico, uma pele hidratada é igual a uma pele
mais suave, tanto ao toque como à vista, e mais resistente às
oscilações de peso rápidas. Também obriga ao contacto direto
com o próprio corpo e o ato de cuidar dele. Para o tratamento
das estrias já existentes, quer as vermelhas e roxas (as mais
recentes) como as brancas, quase prateadas, «uma das terapias
tópicas frequentemente utilizadas são os derivados da vitamina
A, mais conhecido por retinol», lembra a dermatologista
Isabel Fonseca. Este ingrediente vai proporcionar o aumento
da produção de colagénio e ajudar na regeneração do tecido
cicatrizado. É certo que não vai eliminar a estria, mas vai ajudar
a suavizar a textura da mesma e o uso continuado pode até

70% DAS MULHERES VÃO DESENVOLVER
ESTRIAS DURANTE A ADOLESCÊNCIA
E 90% DURANTE A GRAVIDEZ TAMBÉM.
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