Elle - Portugal - Edição 382 (2020-08)

(Antfer) #1
ELLE PT 19

e este fosse um dia igual a tantos outros (pelo
menos os do passado), muito provavelmente
estaria sentado frente a frente com Luís Carva-
lho, pronto para o bombardear com milhares de
perguntas.Mas não é. E por isso, o cenário muda: eu estou
numescritório improvisado na casa dos meus pais, a tentar
encontrar uma canto onde a rede não falhe – quem disse que
passar uma temporada numa casa de campo teria só coisas
boas? –, e o designer no seu atelier em Vizela. Depois de uma
miniluta por um pouco de rede, sento-me de telemóvel na
mão, e toco no ecrã para começar a chamada. Não foi preciso
ouvir muitos daqueles clássicos bips de chamada telefónica,
até que do outro lado alguém respondeu: «Estou?!».


ONCE UPON A TIME
Depois de um comum «Olá, tudo bem?» o designer de
33 anos, que ainda hoje vive na sua cidade natal de Vizela,
começa a contar-me como desde de criança sempre soube
que o seu futuro passaria pelo mundo da moda – mesmo
tendo passado por uma fase em que o gosto pela arquitetura
tenha florescido quando fazia plantas de casas, com detalhes
de como colocaria a mobília. «Desde pequenino que sempre
quis ser designer. Claro que, no início, talvez não pensasse
muito sobre isso, mas houve uma coisa que se calhar me
influenciou que foi o facto da minha mãe ter tido uma
empresa têxtil durante muitos anos. Todos os meus verões
eram passados lá junto dela. Isto é, sempre que a minha


mãe tinha que ficar comigo, eu ficava lá na confeção dela e
acabava por passar os meus dias ali, a brincar com aquilo
que tinha à mão, que no caso eram as sobras de tecidos».
Fico sempre impressionado (no bom sentido) quando
oiço alguém dizer que, desde muito jovem, já tinha algum
tipo de noção do caminho que a sua vida levaria. Muito
porque acaba por nos orientar melhor no nosso rumo. E no
caso de Luís Carvalho, foi precisamente dessa forma que
o trilho do seu destino foi iniciado: depois de terminar a
escolaridade obrigatória, decidiu trocar o secundário por
um curso profissional de moda no CENATEX, em Gui-
marães, e posteriormente a isso, para cimentar melhor os
seus conhecimentos, optou por entrar na Escola Superior
de Artes Aplicadas, em Castelo Branco, para se licenciar
em Design de Moda e Têxtil.
Foi aqui que teve a oportunidade de crescer e beber do
conhecimento de alguns dos nomes mais reconhecidos da
indústria nacional: Alexandra Moura, que foi sua professora,
e de quem se recorda com ternura através de um «eu amava
a aula dela, ficava sempre encantado, e tinha sempre vontade
de lhe fazer perguntas sobre as coisas, até porque eu já sabia
que queria fazer um percurso igual ao dela». E também
Filipe Faísca, com quem estagiou durante oito meses, um
designer que reconhece ter marcado profundamente o seu
percurso: «Adorei conhecer e acompanhar de perto o trabalho
dele, o seu processo criativo, adoro-o como pessoa, e aprendi
imenso com ele. Muito do que tirei dessa experiência usei
para abrir o meu próprio negócio».

LUÍS


Graças à forma como tem vindo a renovar a sua “folhagem”, estação após
estação, Luís Carvalho conseguiu consagrar-se e tornar-se num dos nomes
mais incontornáveis da moda nacional. Por Vítor Rodrigues Machado

A


NATUREZA


DE


CARVALHO


S

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