Elle - Portugal - Edição 382 (2020-08)

(Antfer) #1
FOTOS: MODALISBOA UGO CAMERA (6) - RUI VASCO

CRIADORES


20 ELLE PT


a sua primeira coleção de SS14 «construída com muito
nervosismo à mistura, porque sabia que tinha de criar algo
muito bom para fazer as pessoas falarem sobre a marca».
Como é óbvio, o feedback final foi positivo, e desde então
que, estação após estação, tem vindo a dar novas cartas no
mundo da moda portuguesa. Mas o caminho não é fácil.
Como sabemos, e o próprio diz, este processo de afirmação
«é mais desafiante, porque temos mais obstáculos. É mais
difícil vendermos as nossas peças, porque as pessoas têm
dificuldade em ver valor».
É verdade que este é daquele tipo de coisas que nos de-
sencoraja (até porque são poucas as pessoas que gostam de
sentir que estão a nadar contra a corrente), mas no caso de
Luís Carvalho, nada fez com que baixasse a agulha. Bem
pelo contrário. Abraçando o desafio de peito aberto, e já
sabendo de todas as contingências que o mercado nacional
teria, olhou com perspicácia ao seu redor e tentou perceber
de ueforma oderia projetar mais a sua marca. E claro,
que o star system nacional foi uma de-
las: «Desde o início que isso ajudou a
projetar a marca. Aliás, esse foi sempre
um objetivo meu: encontrar as pessoas
certas, para que conseguisse projetar
melhor o meu nome. Isso foi essencial
desde o início, e construir a minha ima-
gem também nessa vertente».
De todas as celebridades que já tive-
ram o prazer de usar uma peça de Luís
Carvalho em grandes eventos, Inês Cas-
tel-Branco e Conan Osíris são os primei-
ros que automaticamente me passam pela
cabeça. A primeira, com aquele vestido
longo, digno de um conto de fadas, com
que desfilou pela passadeira vermelha dos Globos de Ouro
em 2018 (construído através de uma partilha de ideias entre
os dois) e que acabou por ganhar um grande destaque em
várias galerias de imagens da cerimónia. E o segundo, com
o fato verde (que foi alvo de tantos comentários na altura)
que usou para cantar e representar Portugal no Festival da
Eurovisão, em 2019.

A CAUSA CERTA
Se existia assunto sobre o qual não queria mesmo que acon-
tecesse aquele “bolas, havia aquela cena que lhe queria
perguntar e não perguntei”, era o da t-shirt que lançou em
2019, com Tânia Diospirro, para apoiar a Liga Portuguesa
Contra o Cancro. Por isso, aproveitando o balanço do tema
das parcerias/colaborações lanço a pergunta. «Tudo começou
quando eu estava a fazer scroll pelo Instagram e passo por uma
publicação feita pela Tânia Diospirro (que é minha amiga).

Mas estes não foram os únicos nomes com quem teve
oportunidade de trabalhar. Assim que terminou o curso,
conseguiu um estágio com Ricardo Preto que, na altura,
também fazia styling e vitrinismo «e que acabou por ser
um bom complemento na minha aprendizagem», e após
este, geriu ainda a antiga loja de Miguel Vieira, em Lisboa.
Estas experiências, fizeram com que a capital se tornasse
na sua nova casa durante algum tempo, mas a bobina que
até então lhe tinha cosido a vida estava prestes a ficar sem
linha – ou se preferir a mudar de cor –, quando recebeu uma
proposta de trabalho que o faria regressar ao norte do país, na
Salsa. «Custou um bocado na altura, porque preferia viver
em Lisboa e trabalhar mais na parte de atelier (que como
todos sabemos é um bocado mais difícil). Mas ali tinha uma
oportunidade boa de crescer numa empresa grande, numa
área completamente diferente». Como o próprio diz, foi
uma passagem importante para o seu currículo «aprendes a
trabalhar numa empresa, com fornecedores comdimensões
completamente diferentes, com gestão
dos preços e dos timings, ou seja, ficas
a par do processo completo».

WE SEE YOU
Em 2013, e depois de dois anos e meio
naquela empresa, o designer (na altura
com 26 anos) sentiu que estava na hora
de mudar, e dar o passo final que o fa-
ria concretizar o tão aguardado sonho
que mantinha de lançar a sua própria
marca. Depois de falar com os pais, e
ter contado com o apoio deles ,«por-
que passas de ter um ordenado ao final
do mês para uma coisa que não sabes se vai correr bem ou
não» sentiu-se pronto. «Como já tinha o background todo
de empresa e atelier, e tinha um espaço físico disponível (e
mesmo a nível de contactos já tinha trabalhado na produção
da ModaLisboa, ou seja já sabia como é que as coisas todas
aconteciam) senti que tinha chegado a hora».
Todos os passos foram muito bem pensados, e nada foi
deixado ao acaso. Pegou em todos os ensinamentos que tinha
guardado e «Comecei por lançar uma coleção cápsula, para
que as pessoas começassem a associar a marca a um estilo
de roupa». Como o plafond não era grande, a maioria das
responsabilidades (ou todas mesmo) acabaram por recair
nele: «desenhei a coleção, desenvolvi os moldes, confecionei,
fiz o lookbook (com a ajuda do meu amigo João Pombeiro),
tratei das redes sociais e do site... até porque eu sabia que não
bastava ter a coleção, era preciso também comunicá-la». E
foi precisamente isso que fez. Com esta coleção conseguiu
entrar na ModaLisboa, na plataforma LAB, onde mostrou

«TEMOS MAIS
OBSTÁCULOS. É MAIS
DIFÍCIL VENDERMOS
[EM PORTUGAL]
AS NOSSAS PEÇAS,
PORQUE AS PESSOAS
TÊM DIFICULDADE EM
VER VALOR NELAS»
Free download pdf