Elle - Portugal - Edição 382 (2020-08)

(Antfer) #1

34 ELLE PT


FOTO: IMAXTREE (1)

ESTILO


ndamos há anos a falar sobre
o “futuro da moda”. Aliás,
esta é mesmo uma daquelas
discussões que se têm vindo
a arrastarao longo dos anos, mas que
ganhouespecial relevância desde que
o acesso à Internet se democratizou
(deixando de ser um luxo de poucos,
para passar a ser uma realidade na vida
de quase todos). Sobre o tema foram já
feitas centenas de reportagens, gastos
milhares de caracteres e usadas dezenas
de palavras em palestras cujo o único
objetivo foi indagar sobre quais as pos-
síveis transformações que a indústria
da moda pode vir a sofrer nos próximos
tempos, devido especialmente ao de-
senvolvimento tecnológico.
Desde que esta revolução digital
começou que assistimos a várias mu-
danças (ainda que, em grande parte
dos casos, com alguma resistência) na
indústria: sites foram lançados, lojas on-
line foram criadas e até mesmo desfiles
foram transmitidos através de diretos.
Mas num mundo que se desenvolve
em múltiplos “www”, à velocidade de
um “teclar” na barra de pesquisas do
Google por Melhores Vídeos de Gatos,

serão estas mudanças suficientes? Esta-
rá a indústria da moda pronta para se
reinventar e surgir numa versão 3.0?

EU, ROBOT
Um pouco por todo o mundo estudam-
-se possíveis formas desta indústria se
reinventar e tornar-se mais User Frien-
dly, e a ideia com que acabamos por
ficar, na grande maioria das vezes, é que
pouco se tem feito – pelo menos é essa
a sensação que nos dá quando vemos
grandes marcas manterem o seu modelo
de negócio, ou as suas apresentações da
mesma forma –, mas a verdade é que
essa ideia não podia estar mais distan-
te da realidade. Especialmente se nos
estivermos a referir à nova vanguarda
de jovens e talentosos designers que
estão a usar o mundo digital a seu favor.
Anifa Mvuemba, designer da Répu-
blica do Congo, foi a primeira a demons-
trar como esta área pode ser aproveitada
(especialmente durante uma pandemia)
no passado mês de maio, quando fez a
internet parar com a apresentação da
sua coleção feita através do Instagram
Live, onde modelos foram trocadas por
peças ultrarrealistas criadas em 3D. Isso

mesmo, leu bem. Em vez de pessoas a
percorrer uma passerelle fisicamente,
ela criou um universo digital onde,
em suaves movimentos realistas, as
suas peças desfilavam sem que estives-
sem vestidas em nenhum corpo. Como
resultado, este desfile tornou-se num
sucesso mundial sem precedentes – tan-
to nas redes sociais como nos meios de
comunicação – fazendo deste momento
um dos mais assistidos (e comentados)
pela indústria durante a quarentena.
Isto não só por ter sido inesperado, mas
também porque mostrou ao mundo as
potencialidades deste mundo que se
constrói em algoritmos, de uma forma
nunca antes vista.
No Reino Unido, em Londres, os
estudantes de design de moda da Uni-
versidade de Ravensbourne, também
conseguiram tornar-se num exemplo.
Impedidos de mostrar os seus projetos
finais, prensencialmente, devido à pan-
demia, receberam o desafio de (um pouco
à semelhança do que Nicolas Ghesquière
fez com League of Legends para onde
desenhou alguns coordenados) criarem
o seu próprio reino virtual de moda e
mostrarem as suas coleções através de um
jogo (desenvolvido em parceria com os
estudantes de gaming) apresentado na
rede social Twitch. Ideias como esta, ou
a anterior, podem até parecer a alguns,
peculiares, mas numa altura em que o
distanciamento físico entre pessoas é
recomendado e em que o hábito de tocar
em tudo que vemos é de evitar, vem-nos
mostrar que o ponto de partida da moda
pode muito bem ser este – o digital – e
não tem que por isso de perder valor.
Mesmo com isto em conta, usar a rea-
lidade virtual pode não ser algo dese-

REPORTAGEM


REVOLUÇÃO


DIGITAL


O desenvolvimento tecnológico acontece diariamente e
à velocidade da luz, mas de que forma pode a indústria
da moda usá-la a seu favor, agora?

Por Vítor Rodrigues Machado

A

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