Valor Econômico (2020-08-01, 02 e 03)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 1 da edição"03/08/20201a CADC" ---- Impressa por LGerardiàs 02/08/2020@19:52:56


Finanças


Sábado,domingoesegunda-feira, 1, 2e3deagostode2020|C1

Rumo escolhebancos
A companhiade logística Rumo
finalizoua formaçãodo sindica-
todebancosquefarásuaoferta
subsequentede ações(“fol-
low-on”). Serão12 instituições
ao todo, uma estratégiada con-
troladoraCosan,que deve reve-
zar os bancosna primeira e se-
gundalinhanas próximas ofer-
tasdeempresasdeseugrupo-
Compass,RaízeneMoove,disse
uma fonte.A ofertaé da ordem
de R$ 5 bilhões,conforme duas
fontes.O tamanhopodeter va-
riaçãodependendoda demanda
para alocação de lotescomple-
mentares.A companhiajá tinha
informado, na semanapassada,
a contrataçãode Bradesco BBI,
BTG Pactual,Itaú BBA, Banco
do Brasile Safra.A oferta
primáriabuscacapitalpara pro-
jetosestratégicos impulsiona-
dos pela recenterenovação
antecipadada concessãoda Ma-
lha Paulistae para pré-pagar
outorgasdevidasem contratos
de concessãoda empresa.(Ma-
riaLuízaFilgueiras)

Destaques


Regulaçãode fundos
OpresidentedaCVM,Marcelo
Barbosa,afirmouqueaautar-
quiafaráalgumaregulaçãoso-
brealimitaçãoderesponsabili-
dadedecotistasdefundosdein-
vestimentos.Barbosaparticipou
deeventoon-linesobreosim-
pactosdaleidaLiberdadeEco-
nômicanaregulaçãodefundos,
promovidopelaseccionaldaOr-
demdosAdvogadosdoBrasildo
RiodeJaneiro(OAB-RJ).“Écerto
quealgumaregulaçãovaihaver,
esteéumprincípioreconhecido,
masessaatuaçãotemqueser
muitoclaraeparaissotemoso
instrumentodaaudiênciapúbli-
ca”,disse.Eleacrescentouquea
autarquiavaiconvivercomuma
“tensãonatural”queexisteentre
oespíritodanovalei,quelimita
opoderregulatório, eoreconhe-
cimentodanecessidadederegu-
lação. “A próprialeidizquea
CVMestabeleceráalgumaregu-
lamentaçãoeédentrodesseli-
mitequeosregulamentosdos
fundospoderãotratardalimita-
çãoderesponsabilidadedeco-
tistaseprestadoresdeserviços.
MasseráesperadoqueaCVM
tratedissocomrelaçãoafundos
diferentes?Nãoseisepodemos.
Creioquepodemos,massomen-
tecombaseemalgumajustifica-
tivamuitorelacionadaaonosso
mandato,queéproteçãodein-
vestidoreseobomdesenvolvi-
mentodomercado.”(Gabriel
Vasconcelos)

Partesrelacionadas
OBancodoBrasilinformouque
comproucarteirasdoBV(antigo
Votorantim)porR$395,427mi-
lhões.Aoperaçãofoirevelada
emcomunicadosobretransa-
çõescompartesrelacionadas,já
queoBancoVotorantimécon-
troladopeloBBeafamíliaErmí-
riodeMoraes.Adatadecessãoé
24dejulho.Asoperaçõesconsis-
tememcessãodedireitoscredi-
tórioscomretençãosubstancial
dosriscosebenefícios(comcoo-
brigaçãodocedente).Segundoo
BB,acoobrigaçãoassumidapelo
BVprevêopagamentodosvenci-
mentosindependentementeda
inadimplênciadacarteira,com
mecanismode“firstloss”.De
acordocomobanco,onegócio
comoVotorantim“decorredasi-
nergiaestratégicaentreasinsti-
tuições”.(Álvaro Campos)

1.606

1.609

1.612

1.615

1.618

1.621

1.624

Fonte:ValorPRO.Elaboração:ValorData

Índicede RendaFixaValor
Base= 100em 31/dez/99

22/Jun 31/Jul
2020
Variações
No dia
No mês
No ano

0,01%
0,68%
5,62%

1.622,05

Asset 1, gestora


liderada por Marcello


Siniscalchi, ex-Itaú,


faz sua estreia em


plenacriseC6


PolíticamonetáriaEmpesquisa


com87casas,74 esperamcorte


Ciclo de


redução da


Selic entra na


etapa final


Lucas Hirata e Victor Rezende
De São Paulo

Depoisde testar níveiscada
vez maisbaixosda taxabásica
de juros,oBancoCentralse pre-
para agorapara aplicarum corte
finalna Seliceinterromperoci-
clodeafrouxamentomonetário.
Essaéaperspectiva de grande
partedos analistas consultados
peloValor, que veemum cená-
rio muitotranquilode inflação a
exemplo da surpresa com os nú-
meros baixos do IPCA-15 de ju-
lho.Omovimento só não é
maior porque os economistas
atribuembastantepesoao dis-
cursootimistados dirigentesso-
bre aatividadeeasinaisde que
a economia começaareagir, in-
clusive comumamelhoramar-
ginal no mercadode trabalho.
Em pesquisa conduzidapelo
Valorcom 87 consultoriaseins-
tituiçõesfinanceiras, uma ampla
maioriade 73 entrevistadospro-
jeta redução“residual” de 0,25
pontopercentual da Selic, o que
levariaa taxa do patamaratual
de2,25%para2%aoano.Umaca-
sa, a OxfordEconomics,trabalha
comcortemaisagressivo,de0,50
ponto. Outras13, porém,traba-
lhamcom a perspectiva de que o
ciclojá tenhasido encerradoem
junho e acreditam que a taxa bá-
sicaserámantida.
Entreaquelesque estão fora do
consenso, os analistasdo banco
MUFGBrasil são categóricos: não
há espaço para corte adicional de
juros. Para eles, as perspectivas fis-
cais têm piorado diante da queda
na arrecadação em um cenário de
fortecontração do Produto Inter-
no Bruto (PIB)e de aumento de
gastosdirecionados paraasaúde e
suporte às famílias e empresas.
“Além disso, a taxa de juros em ter-
mosreaisestápraticamentenopa-
tamarzero ou, dependendo da
métrica, podeestar já no terreno

Agosto/2020 Dezembro/2020

2,25%
2,00%

1,75%

13
73

1

2,25%

2,00%
Entre1% e 1,50%

13

61
5

1,75%

8

Fontes:InstituiçõesFinanceirase Consultorias.Elaboração:ValorData*Em%aoano

Retafinal?
Analistas projetam último ajusteda Selic* em agosto e, depois, manutenção da taxa até o fim de 2020

negativo,principalmente se consi-
derarmosqueoBancoCentralcor-
te os juros para2%nesta próxima
reunião do Copom”, segundoos
economistas Carlos Pedrosoe
MauricioNakahodo.
De fato, ogrande riscopara
qualquercenárioéasituaçãofiscal
eamaneiracomoogovernolidará
comos programas emergenciais
até o fim do ano. Algunsprofissio-
nais afirmam, ainda, que juros
maisbaixos podemtrazer distor-
ções ao mercado de câmbio, com
umadepreciação maiordo real.
Para José Júlio Senna, ex-diretor do
BC, esses elementosameaçam de-
sancorar as expectativasde infla-
çãoemumhorizontemaislongoe,
por isso, a autoridademonetária
não deveriatestar níveisainda me-
nores. “Umaquedaadicional na
Selic não contribui muito paraa
atividade, mas podefazera dife-
rençaparaomercadodecâmbio.”
Desde o encontro de junho do
Copom, a volatilidade da taxa de
câmbio esteve no centro das aten-
ções do BC, queaindaestudaas
causas paramovimentos maisin-
tensos do real do que em seus pa-
res. Apesardo temater atraído as
atenções dos dirigentes do BC, a
economista-chefedaClaritas,Mar-
cela Rocha, não acreditaemuma
influênciadocâmbiosobreospró-
ximos passosda política monetá-
ria. “ComooBCainda não temum
diagnóstico claropara explicara
alta volatilidade, entendemos que
reduções adicionais da taxa de ju-
ros também não são afetadaspor
contadessefator”, afirma.
No cenárioprincipalda Clari-
tas, oCopomdeveefetuardois
novoscortesde 0,25 pontoper-
centualna Selic,oque levariaa
taxabásicaàmínimade1,75%no
fim do atualciclode afrouxa-
mento. Para Marcela,alémde as
expectativas de inflação para
2021 seguiremabaixoda meta,
“a grandecapacidadeociosana

economia mantémainflaçãoem
nívelbaixo”, oquejustificariano-
vos cortesnos juros.Ela aponta,
ainda,que possíveisfrustrações
coma atividadeapóso fim dos
estímulos fiscaispoderiamfazer
a Selicser levadaa níveisainda
menoresposteriormente.
Oambiente de inflação baixa—
aquémdas metasperseguidas pe-
lo Banco Central até 2021—eare-
tomada desigual da atividade ain-
damostramparagrandepartedos
economistas que a Selic deve cair
novamente. Esseselementos, in-
clusive, trazem confiança aos
agentes de que ojuro básico será
mantidonas mínimas históricas
por um bom tempo,caso não haja
um descontrolefiscal comuma
mudançadaleidotetodegastos.
Para oeconomista-chefe do
Itaú Unibanco, MarioMesquita,
apesardonível já baixodos ju-
ros, “o corteadicionalseria moti-
vado,principalmente,por dados
recentes de inflação,que foram
maisbenignosdo que o espera-
do”.Nocenáriobase do banco,a
Seliccairia,portanto,para2%ese
manteria nessenívelaté o início

de um processode normalização
monetária em 2021.No ano que
vem, oItaú projetaque ataxa bá-
sica de juroschegaráadezembro
em3%.Mesquita,contudo,nota
que um eventual redireciona-
mentoda políticamonetáriapo-
deriaocorrer“emfunçãode uma
deterioraçãoadicionalda pers-
pectivafiscalbrasileira”.
Oencaminhamentodo lado
fiscaltambémé observadocom
atenção pelaeconomista-chefe
da Canvas Capital,Camilade Fa-
ria Lima.Para ela, o espaçopara
novasreduçõesna Selicé resi-
dual,“masépossíveldebaterno
que isso se traduzquantitativa-
mente”. A Canvas esperaapenas
maisum cortede 0,25 pontono
juro básico, mas,segundoCami-
la, “nãose podedescartartotal-
menteapossibilidadedeumcor-
te adicionalna reuniãoseguin-
te”,adependerda comunicação
aserempregadapeloCopom.
“O pontomaisimportante se-
ria considerarque amensagem
do comitêé ade que ele deverá
ser maiscauteloso em suas deci-
sões,tendoem vistaoconjunto

de estímulosjá implementados,
monetáriosefiscais,ao mesmo
tempoem que se mantémain-
certezasobreo quadromacroe-
conômico”,diz Camila.Ela argu-
menta,assim,que, para as próxi-
mas reuniõesde políticamone-
tária,o balançodos dadosde ati-
vidadeeinflação euma visão
maisabrangentesobreos riscos
devemser considerados,alémda
situaçãofiscalnopaís.
Já os economistas da Santan-
der AssetManagementavaliam
que um nívelmínimo(“effective
lowerbound”)para a Selicseria,
em parte,em funçãodo riscoso-
berano, que tendeasofrerim-
pactodo quadrofiscal.“Issofaz
com que esse limiteno Brasilse-
ja superior ao observadoem paí-
ses desenvolvidosemesmoem
outrosemergentes”, apontamos
economistas da gestora. Para
eles, o quadrosugere,portanto,
“cautelaadicional”na condução
da políticamonetária, o que está
alinhadoà expectativade manu-
tençãodos jurosapóso cortede
0,25 pontoda Selic esperado pa-
ra a reuniãode agosto.

Crise abalastatusdo dólarcomo moedadereserva


Gabriel Roca e Victor Rezende
DeSãoPaulo

No momento que odólar
americanotem exibidoperdade
fôlegoexpressivaem relação a
outras divisasfortes,odebate
em tornodo seu statusde moe-
da de reservaglobaltem ganha-
do os holofotes.Emboraotema
não seja novo,oafrouxamento
monetário sem precedentesim-
plementadopeloFederalReser-
ve (Fed), o aumento do endivi-
damentodo governodos Esta-
dos Unidose os embatessino-
americanos iniciadosno âmbito
comercial são questõesque têm
impulsionadoa discussão entre
os agentesdo mercado.
“Preocupações reais sobre a
longevidadedo dólaramericano
comomoeda de reserva global
começaram a surgir”, destacam
os analistasdo GoldmanSachs
em relatórioenviadoa clientes.
A equipe liderada por Jeffrey
Currie,chefeglobal de pesquisa
de commodities do bancoame-
ricano, ressaltaque,“há muito
tempo, mantemos a posiçãode
que o ouroéamoedade último
recurso, particularmente em um
ambientecomoo atual,ondeos
governos estãodesvalorizando

suasmoedasfiduciárias eem-
purrandoas taxasde jurosreais
a mínimas históricas”.
Em território americano, o
movimentomais expressivo dos
mercadosnas últimassemanas
se deu nos jurosreais,em espe-
cial os de dez anos,que foramàs
mínimas históricas, enquanto
contratosfuturos de ouroforam
negociados em níveisbempró-
ximos a US$ 2 mil por onça-troy.
Emboraadmitaque areputa-
ção do dólartenhasofrido de fa-
to um durogolpenos últimos
dias,oCommerzbankacredita
que qualquer mudançano sta-
tus da moeda americana como
moeda de reservaestá“muito
longede ocorrer”. De acordo
comThu-Lan Nguyen,analista
de câmbioe mercadosemergen-
tes do bancoalemão,osurtode
umasegundaondade covid-19
nos EUA e em outrasregiõesle-
vantoupreocupaçõesmaisam-
plas nos investidores.
“Maisuma vez, podemser ou-
vidasvozescríticas, que conside-
ram que a posição do dólarame-
ricano comomoeda de reserva
globalesteja em risco”, afirmaa
analista,ao fazerreferência dire-
ta ao relatóriodo GoldmanSa-
chs. Mas, para Nguyen,“o fatode

todomundoestarcomprando
ouro não significa que todo
mundo vai usá-locomoum meio
de pagamento em breve”. Ela diz
que é preciso maispara ser uma
moeda de reservaimportantedo
que atuarapenascomoreserva
de valor, emborareconheçaque
odebatesobreacredibilidadedo
dólarfoilançado.
A analistado Commerzbank
afirma, ainda,que suaspreocu-
pações com odólar se baseiam,
principalmente,no conflitosi-
no-americano e menosem ques-
tões comoa inflação. “Meume-
do especificamenteé que as em-
presas abandonem cada vez
maiso dólarpor temeremsan-
ções econômicas ou até mesmo
decidamsair completamente do
mercadoamericano —em parti-
cular, as companhiaschinesas”,
afirma Nguyen.
Comofontede preocupação
adicional,a analistadiz que a
crisegeradapeladisseminação
do novocoronavírusresultou,
não só em um considerável défi-
cit em contacorrente nos EUA,
mastambémemumenormedé-
ficit orçamentário—condição
chamada de “déficitsgêmeos”
—, oque podetrazermaispres-
são sobreodólar. No entanto,

devidoao statusdo dólarcomo
a principalmoedade reserva, os
EUA não tiveramproblemasem
encontrarcredoresno restodo
mundono passado. “Quemcos-
tumava ser umafonteparticu-
larmenteconfiável de financia-
mento paraadívidados EUA?
Sim,correto,aChina.”
Ela não espera que o Bancodo
Povo da China (PBoC) comece a
vendertítulosdoTesouroamerica-
no como forma de punição aos Es-
tados Unidos, mas diz estar atenta
à saída natural dos investidores
chineses do mercado americano,
impulsionada por umadivisão
gradualdasduaseconomias.
“Nãoé, de formaalguma,nos-
sa suposiçãode que o dólardos
EUA perderá seu statuscomo
moedade reservamundialtão
cedo, mas a criseda covid-19e o
conflitoentreos EUA eaChina
semearam dúvidas suficientes
parajustificarum aumentodo
prêmiode riscopelo dólar”, diz.
Para ela, o ativoque surgecomo
potencialvencedordestasitua-
çãoéoeuro,enãooouro.
Há quemdiscorde.Éocaso de
RobertoDumaseDanielMira-
glia, especialistas em macroeco-
nomiaglobalda Omninvest.“O
euroéum projetopolíticoesua

configuraçãoé muitofragmen-
tadaparasubstituirodólar. O
eurotem essa deficiênciapor
natureza”, escrevemem relató-
rio. Para os dois,o status do dó-
lar comomoedade reservanão
está ameaçadojustamente pela
falta de alternativas.
Dumase Miraglianotamque
aproximadamente 60%das re-
servasinternacionaisestãoem
dólarno momentoelembram
que os preçosdas commodities
são cotadosna divisados EUA.
Alémdisso,os especialistasob-
servamqueamaiorpartedadívi-
da tambémestá em dólareque
as novasemissõestambém têm
usadoamoedaamericana.
“Existemtrês condições para
que odólarpercaostatusde
moeda de reserva”, argumentam
Dumas e Miraglia. O primeiroé
terumaalternativaparaamoeda
americana; osegundoéhaver
menosdívidadenominadaem
dólarfora dos EstadosUnidos;e
o terceiroenvolvea menorde-
pendência do dólarnos merca-
dos de commodities, em especial
o petróleo.“O mercadode com-
moditiescontinuasendoopera-
do todoem dólar, praticamente,
eéum dos fatoresque mantêmo
statusdodólarinalterado.”

Camilade Faria Lima,da Canvas Capital:espaçopara nova reduçãodo juro básicoé residualpor fragilidadefiscal

SILVIACOSTANTI/VALOR
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