Valor Econômico (2020-08-01, 02 e 03)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 5 da edição"03/08/20201a CADC" ---- Impressa por LGerardiàs 02/08/2020@19:51:52


Sábado,domingoesegunda-feira, 1, 2e3deagostode2020|Valor| C5

Finanças


Private equityGestoravaicriarholdingsdefibraópticaeensinotécnico


EB Capital se prepara para


investir R$ 3 bi até fim do ano


MariaLuízaFilgueiras
De São Paulo

Agestora de privateequityEB
Capital nasceuhá três anos eveio
discretamenteestruturandosuas
tesesdeinvestimentoesuasocie-
dadecom nomese experiências
robustas.O período silencioso,
agora, vai ficarparatrás —pelo
volume de negóciosem anda-
mento,aEBCapitalvaicomeçara
fazer barulho.Comandada por
Pedro Parente,ex-presidenteda
Petrobras, Luciana Ribeiro e
Eduardo SirotskyMelzer, oriun-
dos do grupoRBS, e FernandoIu-
nes, ex-ItaúBBA,a EB podeapli-
car entreR$ 2,5 bilhõeseR$3bi-
lhõesna economiabrasileiraaté
o fim do ano. “É um marcoim-
portanteparanossagestoraà
medidaqueessadimensãodein-
vestimentos materializa a di-
mensãodo nossoprojeto,do im-
pactoqueagentequergeraredo
que começamos a construirem
2017”, dizMelzer.
Agestoralevantouum fundo
multiativo, cujacaptação teve
iníciono fim do ano passadoe
atraiufamilyoffices,investidores
de alta renda,institucionaisna-
cionais e estrangeiros. Ovolume
mapeadode negócios já é o tri-
plo do tamanho do fundo,oque
pode trazercoinvestimentospa-
ra as teses—na conta, entram
aquisiçõese investimentona ex-
pansãodas empresas.Ofoco da
EB é atuarno que os sócios defi-
nemcomogapsestruturaisdo
país, ou seja, ondehá carênciade
investimentoemserviçosquede-
veriamserdeamploacesso.
“Queremos investir no Brasile
para isso éprecisoconhecê-lo, le-
vando em contasua ciclicalidade
e suasnecessidades. Nãoéso-
mentealocarcapital, éfunda-
mentalteraltoimpactodegestão
eefeitonaeconomiareal, que éo
histórico que temos em compa-
nhias que lideramos”,diz Melzer.
“Não é só um discurso sobre pro-
pósito,mas uma força da tese de
desenvolvimentoparaopaíscom
resultado bastante atraente de
privateequity”,reforçaParente.
As duastesesque começama
se materializarsão ligadasàco-
nectividade eeducação. Apri-

meira começoucom um investi-
mento, no fim de 2018, na Sumi-
city, companhiade fibraóptica
da cidadefluminense Sumidou-
ro.Desde então,foi acompanhia
do setorque maiscresceuem nú-
merodeusuários, saltandode90
mil para 250 mil assinantes.“Foi
criada por um empreendedor vi-
sionário pararesolverafaltade
acesso no interiordo Rio, com
quase3milkmdeinfraestrutura.
É um exemploclarode empresa
que agente gosta,que já tem um
empreendedor atuando de for-
ma muitoadequada, eque aEB
ajudaaescalaronegócio”, dizLu-
ciana. Nessecaso, o foco do em-
presárioestava na construçãoda
rede,eaEBentrouparaacelerara
áreacomercialefinanceira.
AEBestá em negociaçãoex-
clusiva com nove companhias
com esse perfil—cinco delasjá
em diligência finaleas outras
quatro em processoinicial.As
aquisiçõesdevemcomeçara ser
anunciadasdaquia um mês.
A gestoramapeouas regiões
que,apósaquisições, terãoem-
presas agrupadas em clusters
comautonomia de gestão, mas
que estarãosob omesmoguar-
da-chuva —aholdingEB Fibra,

comandada por Parente.“O jogo
de fibranão éciênciade foguete,
mas ograndedesafioéacapaci-
dadedeexecução”, dizMelzer.
Lucianaressaltaque os prove-
doresindependentes têm 33% de
participaçãodemercadoequea
carência de acessoà bandalarga
ficou aindamaisóbviacoma
pandemiada covid-19,dada a
demandaporcomércioeletrôni-
co, amigração de aulaset raba-
lho parao ambienteon-lineeo
entretenimentoemcasa.
Asegundavertical,deeduca-
ção, está ligadaao temade quali-
ficação de mão de obraealto ín-
dice atualde desemprego.Oen-
sinotécnico,queemmuitospaí-
sesétidocomoumpassaporteda
vida do estudante para omerca-
do de trabalho, é limitadono
país—inclusiveporquestõescul-
turais.“Issogeraum apagãode
mão de obra.Enquantoa taxa de
desemprego aumenta,há vagas
dediferentessetoresabertase
sem os profissionais necessários
paraocupá-las”,dizLuciana.
Aqui,também,oplanoéacria-
çãodaholdingEBEducação.Oi-
to companhias já forammapea-
das, sendotrês em negociação
avançada. “Cercade 80% das es-

colastêm menosde mil alunos,é
um espaçograndepara consoli-
dação. Em paíseseuropeus, qua-
se 40% dos alunosde ensino mé-
dio vão para cursostécnicose no
Brasil, nem 8%”, diz Iunes.A cria-
ção das holdingsjá é um cami-
nho paraofuturo,quandoaEB
for desinvestir.SegundoIunes,
isso pode ser por meiode uma
oferta de ações das holdings,por
exemplo,oudevendadireta.
Outravertenteque agestora
temolhadoestánaeconomiacir-
cular —reduçãoereutilizaçãode
resíduos. Na construçãode cada
negócio, a EB querfixar a identi-
dadedegestorado chamadoca-
pitalismode stakeholdersou no-
vo capitalismo.“O momentoé
bastante rico nessesentido,não
só pelo cenáriode juro baixoque
atraio investidorprivadopara a
economiareal, comopeloreco-
nhecimentoda necessidade de
participardas soluções”, diz Iu-
nes. “E, com ovolumede dinhei-
ro que ogovernoteve que usar
nessacrise,ocrescimentodepen-
de aindamais do capitalpriva-
do”, complementaParente.No
ritmoprevisto, agestoraterá
aplicadotodoo capitalque le-
vantouatéofimdesteano.

Flávia Furlan
De São Paulo

Executivosdo setor bancário
de todoo mundoenxergamas
empresasdepagamentocomoas
principais competidoras paraos
seus negóciosaté 2025,à frente
até mesmodas “bigtechs”ou va-
rejistaseletrônicas, segundo re-
velouestudorealizado pela em-
presasuíçade software bancário
TemenosAG, a pedidoda The
Economist Intelligence Unit,e
divulgadoaoValor.
“Os bancostêm cadavez mais
visto novos entrantes como par-
ceirosde negócios,mas no caso
de pagamentos ainda há uma
percepção de ameaça”, disseEnri-
que O’ Reilly,diretor de América
Latina e Caribeda Temenos. No
total, foram entrevistados 350
executivos bancários em fevereiro
e março, de 32 países, sendo que
dentre eles havia dez brasileiros.
No grupodas empresasde pa-
gamentovistascomo“am eaça”,
estãonomescomoa carteiradi-
gitalamericanaPayPal,oaplica-
tivo de pagamentoschinêsAli-
Pay ou a credenciadoraamerica-
na Square.Questionados sobre
quaisnovosentrantesno merca-
do bancáriovão ser os maiores
competidoresparaas suas com-
panhiasaté 2025,49,8%dos en-
trevistadosresponderamas em-
presasde pagamento.
O peso dessaameaçaestá rela-
cionado como fato de que os

executivos de bancosesperam
uma forteredução do uso de di-
nheiropara o segmentode vare-
jo nos próximosanos,com pa-
gamentos e transferênciassendo
realizados de formaeletrônica.
Em algummomentono futuro,
75,1% dos respondentes espe-
ram que odinheiroem espécie
represente menos de 5% nas
transações do varejo.
Dadootamanho eaquantida-
de de clientes,as empresas de
tecnologia,chamadasde “bigte-
chs”, e os varejistaseletrônicos
poderiam ser vistos como as
maiores ameaças. No entanto,
eles receberam34,4%das respos-
tas, na segundaposição. Neste
caso, foramcitadosGoogle, Ali-
baba,Microsoft eoFacebook,
que recentemente lançou um

serviçode pagamentono Brasil
via WhatsApp, suspensoalguns
diasdepoispeloBancoCentral.
Os executivos ainda acredi-
tamque é na áreade investi-
mentosque os novosentrantes
conquistarãouma maiorpartici-
pação de mercadono futuro
maisdistante,nestecaso permi-
tindoaos clientesque invistam
sozinhosou com a ajudade ro-
bôs. No total,30,8%dos executi-
vos deramessa resposta.Na se-
quência,ficaramas áreasde pa-
gamentos, com23,3%; e pou-
pançae depósitos, com 22,6%.
No caso das fintechs, de acordo
comO’ Reilly, emboranumpri-
meiro momento os bancosas te-
nhamvisto comoumaameaça,
eles têm avançado na tentativa de
firmar parcerias paradesenvolver

novos produtos e serviços. A per-
cepçãoédeque,enquantoobanco
tem a seu favor uma base grande
de clientes, as fintechs têm a capa-
cidade de eliminaruma sériede
fricçõesnesserelacionamento.
Nessecontexto, as prioridades
dos bancostêm sido melhorara
experiência e oengajamento
dos clientese migrá-losda pla-
taformafísicaparaas digitais.
Na jornadarumoao digital,o
item mais importante citado
pelosexecutivos foi atuarcomo
um verdadeiro ecossistema,
oferecendoprodutose serviços
própriose de terceiros, sendo
eles empresasatuantesno setor
financeiroou não.
O“openbanking”, padrãopa-
ra compartilhamentode infor-
mações bancárias, éessencial
nesseprocessode formaçãode
ecossistemas. “Comele, haverá
maistrocade dadosentreos par-
ticipantese os serviçosvão ser
melhorados”, disseRobertode
Oliveira, gerente de Negócios
BrasileAmérica Latinada Teme-
nos. “Além disso,aprópria inteli-
gênciaartificial será melhorada,
com a trocamaisrápida, clarae
inteligentedeinformações.”
Para 35,1%dos executivosen-
trevistados,aestratégiadeinova-
ção em suas empresaspassapela
aberturade um novobancodigi-
tal, enquantopara 28,5%está em
iniciativasde “open banking”e,
para 25,6%,está no investimento
realizadoemstartups.

O’ Reilly, daTe menos:tendênciadereduçãodousododinheiro trazameaça

DIVULGAÇÃO

Pedro Parente(esq.),LucianaRibeiro, DudaMelzer e FernandoIunes,sóciosnaEB:focodeatuaçãonosgapsestruturaisdopaís

CLAUDIO BELLI/VALOR

O que o BB


ganha com


André Brandão


FláviaFurlan,Ta litaMoreira,
Fa bioGraner,EdnaSimãoe
MarceloRibeiro
De São Paulo e Brasília

Aindicaçãode AndréBran-
dão,que atuahá duasdécadas
no HSBC,paraocomandodo
Bancodo Brasil(BB),no lugarde
RubemNovaes,podesignificar
um avançoem duasfrentes:a
aceleração do planode vendade
ativoseaoferta de maiscrédito,
a jurosmenores.O nomedo exe-
cutivoganhouforçana última
sexta-feirae oMinistério da Eco-
nomiabateuo martelo. Ontem,
o presidente Jair Bolsonarodisse
que “a princípio”será ele, embo-
ra o assuntoseja temade reu-
niãoa ser realizada hojecomo
ministroPaulo Guedes.
Brandãoévisto comoum bom
nomepela experiênciano setor
bancário,por ser um ótimofor-
madorde equipe eexibirum es-
tilo “diplomático”,segundo fon-
tes ouvidaspeloValor. Para o go-
verno, seu perfilseriasimilarao
do atual presidente do Banco
Central (BC),Roberto Campos
Neto,istoé,egressodosistemafi-
nanceiroe com conhecimento e
bomtrânsitono mercado de ca-
pitais,noBrasilenoexterior.
O executivo ingressou no
HSBCem 1999,tornou-se dire-
tor-executivoem 2003até que,
em 2012,foi nomeadoCEOno
Brasil,posiçãoocupadaaté2016.
Hoje,de NovaYork, lideraa área
deglobalbankingparaasAméri-
cas. Antes do HSBC,tinhapassa-
do pelosescritóriosdo Citibank
emSãoPauloeNovaYork.
Dadaa sua trajetória, Brandão
é visto comoalguémque conhe-
ce muitode tesourariae opera-
çõesdeatacadoebancodeinves-
timento. Epor isso representaa
possibilidadede aceleraro plano
de vendade ativosdo BB,consi-
deradoprioritário pelaequipe
econômica desdeo iníciodeste
governo. Nessesentido,ob anco
procuraum parceiro paraages-
tora de recursos assimcomodis-
cuteo futuroda operação de
bancodigitaledecartões.
O fato de Brandãonão ter ex-
periêncianovarejobancário,por
outrolado,pode ser uma fragili-
dade,no momentoemque oBB
tem apostado na buscapor ren-
tabilidadeatravés do reforçode
produtose serviçospara pessoas
físicaseempresasde menorpor-
te—exatamenteovarejo.
Outrodesafioseriaanecessi-
dadede o BB avançarem serviços
e produtos digitais,temacom o
qual Brandão não teria experiên-
cia. O BB, hoje,não está muito
aquémdos paresprivadosnesse
quesito, masNovaesvinhaba-
tendona teclade que era preciso
avançar, e muito, paranão ficar
para trás na transformação digi-
tal em cursono setor financeiro.

Em seu pedidode demissão, no
dia 24, Novaesjustificou“enten-
dendoque a companhiaprecisa
de renovaçãoparaenfrentar os
momentosfuturos de muitas
inovaçõesnosistemabancário”.
Há, contudo, quemveja a indi-
caçãode Brandão, que tem um
perfilconsiderado “obediente”,
segundoex-colegas,muitomais
comoumatentativadeoBBreto-
mar oprotagonismo, comuma
agendade liberação de maiscré-
dito e cortede juros.O entendi-
mentoé de que, nestacrise,o BB
perdeuespaço paraaCaixa Eco-
nômicaFederaleoBNDES,que
avançaram na distribuição de
auxílioemergenciale na conces-
sãodecrédito.
“A pressão do Congressoé gi-
gantesobreo governopara libe-
raçãode recursos ereduçãodos
juros,mas o BB estava muitopas-
sivo em relaçãoaisso”, disseuma
fontedo setorbancário, que pre-
feriu não ser identificada. De
acordo com esse interlocutor,
emboraessa demandaexista,na-
da foi discutido pelo governodi-
retamentecomosbancosnosen-
tidodereduçãodetaxas.
Brandãoassumiua presidên-
cia do HSBCapósasaída de Con-
radoEngel—tambémcotadopa-
rasucederNovaes—,quefoipara
oespanholSantander por diver-
gir dos planosde vendadas ope-
raçõesdoHSBCnopaís.Sobasua
liderança, ogigante britânico
vendeua subsidiária localpara o
Bradesco,porUS$5,2bilhões,em
2015.Quandoda nomeaçãode
Brandãoparao cargo, Antonio
Losada,presidente do HSBCpara
a América Latina,ressaltouque o
executivo “daria continuidadeà
execuçãoda estratégia do HSBC
no Brasil,totalmente alinhadaà
estratégiaglobal”.
Entreexecutivos do BB, aindi-
caçãode Brandão causa certa
frustração, umavez que havia
umadisputainternaparao car-
go. Foram consideradosaindaos
nomesdo presidentedo conse-
lho do BB,Hélio Magalhães,que
tem conduzido as discussõesso-
bre vendasde ativos,e os dos vi-
ce-presidentescorporativo,Mau-
ro Ribeiro Neto,ed etecnologia,
FábioBarbosa.Existeo entendi-
mentode que Brandão se com-
prometerámais com a vendade
ativos,pelo seu perfil,do que al-
guémde“dentrodecasa”.
O anúncio formal de Brandão,
porém,aindadepende de ques-
tões burocráticas. O executivo
negociaumasaídaamigável do
cargoque ocupa no HSBC. E,
apósa formalizaçãopelo presi-
denteBolsonaro, aindicaçãose-
rá submetidaao comitêde exigi-
bilidadedo BB. Em casode res-
postapositiva,ogovernopublica
adecisãoem DiárioOficialda
União(DOU).Depoisdisso,have-
ráumcomunicadoaomercado.

Executivos de bancos veemempresas


de pagamentocomo principal ameaça


Indicadopara a presidênciadoBB,AndréBrandão estáháduasdécadasnoHSBC

CLAUDIO BELLI/VALOR
Free download pdf