Clipping Banco Central (2020-08-02)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Correio Braziliense/Nacional - Política
domingo, 2 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes

muita trapalhada para perder a reeleição, ou
ser apeado do cargo, como aconteceu com
Fernando Collor de Mello, quando não havia
ainda reeleição, e Dilma Rousseff, que estava
no segundo mandato. Isso explica, de certa
maneira, a deriva dos partidos do Centrão em
direção ao governo, numa articulação dos
militares do Palácio do Planalto com os
caciques Ciro Nogueira (Progressistas),
Roberto Jefferson (PTB), Valdemar Costa Neto
(Republicano) e Gilberto Kassab (PSD).


A reeleição de Jair Bolsonaro será favas
contadas? É claro que não, ninguém ganha
eleição de véspera. Bolsonaro terá de suar
muito a camisa, abraçar criancinha, andar de
jegue, fazer acordos que até ontem dizia que
não faria, posar para fotos com políticos
enrolados na Lava-Jato etc. Aliás, sua estreia
nesse quesito foi durante a semana que
passou, no Piauí, onde posou ao lado do
senador Ciro Nogueira no santuário
arqueológico da Serra da Capivara, bem ao
lado do emblemático desenho rupestre
conhecido como "Cena do beijo". Mais do que
isso, porém, precisará acertar o rumo de seu
governo, que se encontra à beira da
insolvência em razão da dívida pública
astronômica e do deficit fiscal crescente.


Obstáculos
Há variáveis no meio do caminho da reeleição
que Bolsonaro não controla, precisa adaptar-se
a elas. A primeira é a recessão mundial, que
parece mais profunda e duradoura do que se
imaginava, se considerarmos os resultados
econômicos do primeiro semestre deste ano,
principalmente nos Estados Unidos e na
Alemanha, que tinham uma expectativa de
recuperação em V. A outra variável nesse
terreno é a China, nosso maior parceiro
comercial, com a qual o governo tem uma


relação esquizofrênica, com alguns ministros
trabalhando para aumentar as vendas do
agronegócio e atrair investidores em
infraestrutura, e outros só atrapalhando. A
terceira é a eleição dos Estados Unidos, na
qual o presidente Donald Trump corre o risco
de não se reeleger, pois o democrata Joe
Biden continua na liderança. De tão
desesperado, Trump já pensa em adiar as
eleições. Se o democrata vencer, o Brasil terá
de ajustar sua política externa.

Entre as variáveis controláveis por Bolsonaro, a
mais importante é a política econômica. Todos
os economistas fazem um diagnóstico sombrio
sobre a capacidade de recuperação da
economia brasileira nos próximos dois anos. A
narrativa de que teremos uma recuperação
econômica espetacular, do ministro da
Economia, Paulo Guedes, não se sustenta nos
fatos. O xis da questão é a dívida pública, que
pode chegar a 100% do PIB, o que a torna um
fator inflacionário inequívoco. A alta do dólar
está aí para mostrar que o dragão está
acordado e ruge, somente não dando as caras
porque a atividade econômica é muito baixa.
As saídas são uma reforma tributária
competente e a reforma administrativa, mas
isso não costuma dar votos para os
governantes a curto prazo. Pelo contrário,
tiram.

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central -
Perfil 1 - Paulo Guedes
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