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Correio Braziliense/Nacional - Opinião
domingo, 2 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Como seremos depois da pandemia


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Autor: JAIME PINSKYHistoriador, doutor e livre-
docente da USP, professor titular da Unicamp,
autor de Po

Mesmo tendo efeitos devastadores, a
humanidade não acredita que a covid-19
decretará o fim do mundo. Tanto é que já
começamos a especular sobre o que vai mudar
no day after assim que nos livrarmos da
pandemia. Geralmente, não sou de arriscar
previsões: nós, os historiadores, no máximo,
tentamos adivinhar o que já aconteceu. E
mesmo sobre isso temos opiniões diferentes...

Mas, sobre o dia seguinte, talvez seja
importante refletir. Estamos apostando muito

alto, e é possível que venhamos a ter grandes
desilusões. Lidar com a realidade é sempre
difícil, particularmente neste momento, em que
nos sentimos fragilizados. Idealizar o futuro é
forma de manter a sanidade, mas construir
castelos de areia pode ser mais perigoso ainda
para nossa saúde mental.

O tal dia seguinte só vai acontecer se e quando
tivermos um remédio confiável ou a vacina.
Atrás dela correm dezenas de laboratórios, em
muitos países, de ingleses a russos, de
americanos a chineses. Segundo especialistas,
as vacinas serão muito diferentes, desde as
produzidas de forma mais tradicional, como a
chinesa, feita em parceria com o Instituto
Butantan, até outras com tecnologia mais
sofisticada, como a inglesa, passando pela
israelense, que promete ser oral e não injetável.
Mas elas não existem ainda, embora cientistas e
médicos com muita credibilidade achem que
estarão prontas para serem aplicadas pouco
antes do carnaval (o que, do ponto de vista
mercadológico, seria glorioso e oportuno).

De uma forma ou de outra, parece que o tal do
dia seguinte só ocorrerá no próximo ano. Até lá,
teremos que conviver com o medo da
contaminação. Vamos continuar a olhar com
desconfiança para qualquer um que cruzar
conosco sem máscara, vamos temer aquele
resfriado e aquela dor de garganta. Um simples
espirro nos fará correr atrás do termômetro para
aferir a febre. Continuaremos com o novo hábito
de cheirar a comida para conferir se não
perdemos o olfato, e degustá-la lentamente para
estarmos seguros de que continuamos sentindo
o gosto das coisas. Os que têm o que temer,
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