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O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
domingo, 2 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
J. R. GUZZO Mistura grossa
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O Ministério Público, pelo que está escrito na lei
brasileira, é pago para agir na acusação contra
delinquentes e para representar o interesse
público quando entender que ele esteja sendo
contrariado; seu papel é ficar contra os
criminosos. Da mesma maneira, cabe aos
advogados agir na defesa de quem é acusado
pelo MP; seu papel é ficar a favor dos clientes.
O primeiro tem de procurar a condenação. Os
segundos têm de procurar a absolvição. Mas
isso aqui é o Brasil, e no sistema de Justiça do
Brasil quase nada funciona como determinam a
lógica, a decência e as próprias leis. Temos,
assim, que o MP, segundo a postura pública de
seu funcionário mais alto, o procurador-geral da
República, se coloca contra quem faz as
denúncias e a favor de quem é denunciado - ou,
pelo menos, é assim quando se trata de
combate à corrupção. Na sua visão de justiça,
exposta pela última vez numa palestra
eletrônica que fez nesta semana, o dr. Augusto
Aras nos informou que o grande problema da
corrupção no Brasil não são os corruptos que
durante anos a fio transformaram a
administração pública em sua propriedade
privada. O problema, diz ele, é a Lava Jato.
É realmente um espanto, mesmo para um país
em que os marechais de campo da Justiça são
esses que há por aí. Acredite se quiser, o PGR
lançou o seu manifesto contra a maior e mais
bem-sucedida operação de combate à
corrupção jamais feita nos 520 anos de história
do Brasil numa emissão fechada de imagem e
som para cerca de 300 advogados criminalistas
- em grande parte sócios de bancas milionárias
e com clientes, ainda mais milionários, atolados
na Lava Jato sob acusações de ladroagem em
primeiro grau. Como assim? Numa de suas
mais conhecidas lições de ética, um antigo e
afamado criminoso do Rio de Janeiro já
ensinava: "Bandido é bandido, polícia é polícia".
Então: procurador é procurador, advogado é
advogado. O lugar onde eles têm de se falar é
no fórum, diante do juiz - só lá. Se não for
assim, e durante o tempo todo, vira uma mistura
grossa com a pior cara possível.
A Lava Jato foi, possivelmente, o mais precioso
momento já vivido pela Justiça deste país na