Clipping Banco Central (2020-08-02)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
domingo, 2 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Bruxelas, para onde fora nomeado. Celso,
servidor público por excelência, além de grande
intelectual, era falado para outros ministérios,
como o da Fazenda ou do Planejamento.
Coubelhe o da Cultura, que organizou e ao
qual emprestou o prestígio de seu nome.


Disse-lhe que eu não poderia sequer ser
cogitado para uma função ministerial porque
era senador exercendo a suplência e quem
ocuparia minha função no Senado seria o
segundo suplente, que era prefeito de
Campinas. Teria de renunciar à prefeitura para
assumir o Senado. Aconselhei-o a aceitar o
ministério, sem que me houvesse perguntado.


Quiseram os fatos que fôssemos amigos. Em
Paris, mais de uma vez fiquei no seu
apartamento. Da mesma maneira, inúmeras
vezes Celso ficou em meu apartamento em
Brasília quando eu era senador. Também
frequentes foram nossos encontros quando
morávamos na França. Ao longo de 1961,
Celso, Luciano Martins, de quem ele era muito
chegado, eu, e, eventualmente, Waldir Pires
almoçávamos juntos.


A amizade, que se manteve, nunca me fez
esquecer que foi com seus livros,
especialmente A Formação Econômica do
Brasil, que comecei a entender as mudanças
que ocorreram no País.


Quando, em 1964, estivemos (Celso por alguns
meses antes de ir para Yale) a viver em
Santiago, moramos juntos. E conosco
Francisco Weffort e Wilson Cantoni. Celso
havia trabalhado antes na Cepal e, além de ser
amigo dos economistas chilenos, era admirado
por Prebisch, nosso inspirador e chefe do Ilpes
e do BID.

Não sei de outro economis- ta (mais do que
isso: cientista social) que tenha influenciado
tanto a minha geração como Celso. E muitas
outras mais. Não só pelo que renovou na visão
sobre a economia (somando Keynes a
Prebisch e Kaldor), mas como homem público
exemplar.

Inteligente, culto e modesto. Dele as gerações
futuras não apenas se recordarão, como lhe
serão agradecidas. Celso mostrou-nos o
quanto a economia brasileira se integrava à
economia mundial e como sem uma ação do
Estado teria sido impossível (ou muito mais
difícil) avançar tanto quanto avançou. Além do
mais, sabia escrever: iniciara a vida na
literatura.

O mesmo digo sobre Florestan Fernandes:
homem de cultura enciclopédica, conhecia
tanto sociologia como antropologia e os
escritos dos economistas clássicos não eram
misteriosos para ele. De Marx a François
Simiand, conheciaos bem. Mais do que isso:
desvendou não só os males da escravidão e
dos preconceitos de cor, como também
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