Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Especial
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Ministério da Fazenda
um todo foi afetada, com forte impacto social.
Quadro triste, que levará tempo para ser
corrigido, mas que também pode permitir uma
melhora rumo ao futuro.
- No campo fiscal, como vê o corona voucher e
a criação de um novo tipo de Bolsa Família, o
Renda Brasil?
O corona voucher foi muito importante,
significou um grande alívio. Ele é um
mecanismo temporário, e a saída dele tem que
ser bem sincronizada com a retomada do
trabalho. Essa experiência é provavelmente
diferente de mudanças ambiciosas no
arcabouço do sistema de transferências
sociais. O Bolsa Família ajudou sem ter
impacto fiscal negativo porque era focado,
olhava o longo prazo e não criava uma
obrigação de pagamento permanente. Esses
princípios me deram muita segurança quando o
benefício foi criado e eu era secretário do
Tesouro. E ainda me parecem válidos.
- Aprova a volta de uma espécie de CPMF
digital?
Permita-me usar uma frase que o Mark Carney
(ex-presidente do Banco da Inglaterra) usava
quando se discutia inovação financeira no
Conselho de Estabilidade Financeira do G20: o
importante é a atividade e não a tecnologia que
se está usando. Ele dizia que se uma
instituição está emprestando com dinheiro do
depositante, então é um banco, independente
da tecnologia. No caso da CPMF, a questão
não é ser digital, mas qual a ação que está
sendo tributada. A CPMF é digital, porque
cobrada pelos bancos. Mas, nos idos de 2004-
2005 pude ajudar a Receita Federal a evitar
sua cobrança, por exemplo, no
rebalanceamento de carteiras e outras
movimentações que não representassem, por
exemplo, consumo. Hoje, a cobrança pelos
bancos do novo PlS/Cofins no momento de
pagamento entre empresas, deduzindo os
créditos do tributo devido, como proposto por
alguns, talvez trouxesse mais resultados do
que uma CPMF e não pesasse muito nas
empresas. Mas tenho confiança que o
Congresso vai encontrar o melhor caminho.
- O Brasil consegue sair da crise sem aumentar
impostos?
A teoria econômica diz que quando um país
sofre um choque como o que sofremos, a
melhor solução é tomar emprestado no exterior
e ir amortizando os custos aos poucos. Como o
choque foi global, essa opção ficou mais
limitada. É preciso pensar nas próximas
gerações. A resposta tem que equilibrar
cuidadosamente o quanto um déficit evita
redução do crescimento potencial agora,
deixando uma base maior para as futuras
gerações, e o quanto o que resulta é apenas o
uso antecipado de recursos futuros onerando
nossos filhos. Esse equilíbrio vai definir os
limites no gasto e o aumento dos impostos.
- Uma vacina permitirá voltar à vida anterior?
Sabe-se que sempre há novos vírus, a vida não
será exatamente como antes. Provavelmente
novas redes de alerta e proteção imunológica
serão desenvolvidas, como aconteceu na Ásia
depois do SARS nos anos 2000. Essas redes
aumentam a resiliência dos países, mas
precisam ser planejadas.
- A atuação forte de todos governos,
derramando dinheiro em suas próprias