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Banco Central do Brasil


Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Centrão


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Autor: Marcas André Melo

"Através de toda Europa indagou-se, em 1945 e
1946: pode-se governar com os comunistas?
Em 1947, sem eles? Em 1948, pergunta-se:
como governar contra eles?"

O dilema envolvido em como governar em um
quadro em que a presença de um partido ou
bloco rival tem forte poder estratégico - e não
pode ser ignorado - foi identificado com
acuidade por Raymond Aron, nas suas
"Memórias".

A analogia serve como ponto de partida para a
discussão do papel do PMDB - e no atual
governo, do centrão - no cálculo estratégico dos
presidentes. Embora o termo tenha sido usado
no governo Sarney para uma facção do partido,
seu uso atual para designar um bloco é
sugestivo: deve-se a um padrão de
fragmentação partidária, nunca visto em
democracias - há dez partidos com 28 (5,4% do
total) a 41 (7,9%) cadeiras na Câmara dos
Deputados. Mas o conceito é sem dúvida
analiticamente pobre.

Sob Bolsonaro a sequência de Aron inverte-se:
em 2019, governava-se contra o centrão. Ele fez
campanha e iniciou sua gestão sob a consigna
da rejeição da velha política; seu ministro da
Justiça simbolizava aluta contra a corrupção.

Em 2020, governa-se com o centrão, ou pelo
menos buscou-se aproximação com ele. O
governo perguntou-se: pode-se governar sem o
centrão? Mas o "leitmotif não foi a formação de
maiorias positivas para aprovação de iniciativas
do Executivo, mas de maioria negativa; um
escudo legislativo contra o impeachment, o qual
entrara na agenda com a crise desatada pela
denúncia de Moro. Sua saída e a aproximação
com o centrão são faces da mesma moeda: ela
é precondição daquela. Não é à to a que
acontecem ao mesmo tempo.
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