Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Política
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

os choques do petróleo, no final de 1978 saiu
uma nota que até hoje ainda é referência no
linguajar popular. Trazendo novamente o
retrato de José Maria da Silva Paranhos, o
barão do Rio Branco, a cédula de Cr$ 1.
marcou época e foi motivo de uma
engraçadíssima canção lançada por Nelson
Gonçalves em 1982: “O Barão”.


Composta pelo veterano sambista Klecius
Caldas e seu filho Fernando Pennafort, a
música fazia troça de figuras que estamparam
nosso papel-moeda nos tempos de Vargas
(“Seu Cabral, Tiradentes, Santos Dumont / Já
valeram dinheiro no tempo bom”) e, com a
economia do período militar já fazendo água,
caçoava: “Seu barão, o que que há com o
senhor, que era o tal nos tempos do
imperador? / A carestia tão cruel liquidou o seu
papel / Alta do dólar, alta da libra / Vai o
cruzeiro pro beleléu”.


Veio a redemocratização, e as expectativas de
que o “dragão da inflação” seria domado logo
se evaporaram em meio a uma montanha-
russa de planos econômicos heterodoxos e
trocas de moedas. “Perplexo” é como o
brasileiro se sentia naquela época, conforme
cantaram em 1989 os Paralamas do Sucesso:
“Mandaram avisar / agora tudo mudou / eu quis
acreditar / outra mudança chegou”.


“Fim da censura, do dinheiro, muda nome,
corta zero / Entra na fila de outra fila pra
pagar”. Entre 1985 e 1994 nós convivemos
com cinco moedas (cruzeiro, cruzado, cruzado
novo, cruzeiro novamente e ainda o cruzeiro
real) e até chegarmos finalmente ao real os
valores do dinheiro brasileiro foram divididos
por 2,75 trilhões para facilitar as contas em
meio à espiral inflacionária.


De Sarney a Itamar, dezenas de personagens
valorosos de nossa história se sucediam em


cédulas que logo não tinham mais valor algum.
Pela ordem foram JK, Rui Barbosa, Oswaldo
Cruz, Villa-Lobos, Machado de Assis, Portinari,
Carlos Chagas, Drummond, Cecília Meireles,
Augusto Ruschi, Rondon, Carlos Gomes, Vital
Brazil, Câmara Cascudo e Anísio Teixeira. Ao
final já faltavam personalidades, e teve que se
recorrer à efígie da República e a tipos
populares como o gaúcho e a baiana.

Em 1993, no auge do descontrole inflacionário,
ministros da Fazenda não chegavam a durar
um mês no cargo, e é desse período a cédula
de maior valor nominal da história brasileira:
Cr$ 500.000 (meio milhão!). Trazendo na face
o escritor Mário de Andrade, nada traduz
melhor como foi o processo hiperinflacionário
brasileiro: o verso “e então minha alma servirá
de abrigo”, impresso logo acima do valor de
500 mil, foi extraído do mesmo poema que
começa com “eu sou trezentos, sou trezentos e
cinquenta”. Mais Macunaíma, impossível!

O filósofo Renato Janine Ribeiro, que já ocupou
este espaço, certa vez escreveu sobre o
simbolismo da escolha do nome e das
estampas da nova moeda. O “real” seria uma
promessa e uma profissão de fé de que
daquela vez o controle da inflação seria para
valer, enquanto os animais da nossa fauna
representavam um dos poucos ativos dos quais
os brasileiros tinham orgulho e que ainda
possuía valor no exterior: a natureza.

Quem esteve nos bastidores da criação do real
dá uma explicação menos poética para a
escolha: não havia tempo para se imprimir uma
família inteira de novas notas em tão pouco
tempo, e os técnicos da Casa da Moeda
propuseram utilizar desenhos para os quais já
havia modelos para serem utilizados. Faz
sentido: o beija-flor da nota de um real era
quase igual a outro que já havia aparecido no
anteverso dos 500 cruzados novos com o
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