Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


O Globo/Nacional - Segundo Caderno
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clementina, da Teresa Cristina, e menos da
hidroxicloroquina. Nesta noite, o coração
vagabundo do brasileiro vai palpitar acelerado,
bater diferente, mas provocado apenas pelo
estupor diante da beleza das canções. Desde
que o samba é samba tem sido assim, mas
com Caetano esse cacho de acácias ficou
ainda mais delicado. Existirmos, afinal, a que
se destina?


O país tem ouvido palavras muito feias, ditas
por gente que jamais saberá do prazer de roçar
a língua na língua de Luís de Camões. E uma
dádiva que o doce bárbaro venha agora no
meio dessa escuridão tamanha - quando tudo é
certo como dois e dois são cinco - e faça soar
sua sílaba de cultura e civilização. Onde
querem revólver, ele é coqueiro. Onde querem
cowboy, chinês.


Os grandes artistas criam nações paralelas,
como os sertanejos do Guimarães Rosa, as
ninfetas do Dalton Trevisan e as suburbanas
passionais do Nelson Rodrigues. Na sexta-feira
estarão o índio impávido que nem Mohammad
Ali, a filha da Chiquita Bacana, o cara de
olhinhos infantis feito os de um bandido, as
crianças cor de romã, a dona das divinas tetas,
a abelha rainha, os soldados quase todos
pretos, a mulher preparando outra pessoa e o
menino do Rio.


E uma nação que, nu com sua música,
Caetano Veloso construiu a partir das boas
palavras e dos bons quereres. Gente feita para


brilhar. Ficará no ar por zil anos, em eterna e
vitoriosa "live" contra os ridículos tiranos.

É uma "live" contra a morte generalizada que
acomete a nação, a vacina possível para
purificar o Subaé de nossas almas
despedaçadas

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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