Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Opinião
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

metade da população mundial (mais de
trêsbilhões de pessoas) não consegue arcar
com dietas saudáveis.


A razão para esta inacessibilidade é que uma
dieta que inclua frutas, verduras, legumes
frescos e proteínas de origem animal é cinco
vezes mais cara que uma dieta que fornece
somente o mínimo das calorias necessárias
para sobreviver, baseada nas commodities
(como cereais, açúcar, soja, trigo e milho).
Somente os países desenvolvidos têm
produção suficiente de não-commodities para
atender a todos com alimentos nutritivos. No
Brasil, uma em cada quatro pessoas (25% da
população) não ganha o suficiente para
acessar uma alimentação adequada. Na África,
esse número sobe para 57%.


Segundo o Sofi, para aumentar o acesso a
alimentos nutritivos e saudáveis o custo desses
produtos precisa baixar. Contudo, o esforço
para produzir cada vez mais ao menor custo
possível tornou-se um dos fatores que nos
levou a produzir commodities indiferenciadas a
preços muito baixos. Cumpre igualmente
ressaltar que produzir alimentos de maior
qualidade nutricional tem um custo mais
elevado, e isso ensejaria resolver uma questão
central: aumentar o nível dos salários pagos,
de modo a também permitir uma melhor
remuneração aos produtores agrícolas. Trata-
se de um dos maiores paradoxos alimentares
dos nossos dias, são exatamente os pequenos
agricultores mais pobres da África, Ásia e
América Latina que mais passam fome.


Quando Henry Ford criou o Ford T, o objetivo
era produzir o primeiro carro popular da
história, em que seus próprios empregados
pudessem dirigir. Esse era o lema do
capitalismo em seu início: proporcionar a todos
os trabalhadores a oportunidade de desfrutar
dos produtos que produziam.


Porém, para isso, não somente foi produzido
um carro popular em larga escala, como
também foi aumentado o salário dos
trabalhadores da fábrica.

O Sofi 2020 recomenda uma revisão nas
políticas agrícolas com o direcionamento de
subsídios para a produção de alimentos
saudáveis, bem como maiores financiamentos
para a produção e pesquisas de não-
commodities.

Um estudo publicado recentemente na revista
científica The Lancet mostra que a melhor
forma de melhorar a saúde da população e
reduzir os gastos de saúde pública
relacionados à má alimentação, é associar o
subsídio para produção de gêneros alimentares
nutritivos à taxação de bebidas açucaradas,
como osrefrigerantes.
(https://www.thelancet.com/action/showPdf
?pii= S2468-2667%2820%2930116-X).

Em paralelo, o Sofi demonstra haver um
espaço importante para políticas que
promovam a reeducação alimentar. Não faltam
motivos para apoiar a transformação do padrão
de consumo. A adoção de dietas saudáveis
reduziria em quase 50% os gastos de saúde
pública e de 40 à 70% o custo social da
emissão de gases do efeito estufa relacionada
à alimentação, até 2030.

A ideia de que apenas a redução dos preços
dos alimentos resolve o problema da fome não
encontra respaldo nas estatísticas da própria
FAO. A fome no mundo teve uma forte redução
entre os anos de 2008 e 2014, período que
coincide com uma rápida alta no preço dos
alimentos no mercado internacional. São os
salários baixos que fazem com que o preço dos
alimentos precise ser baixo para que a maioria
da população consiga comer commodities,
Free download pdf