Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Política
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Um dos grandes desafios para se viabilizar
mudanças de comportamento dos
consumidores por meio desse tipo de
mecanismo tarifário é que a elasticidade do
consumo de energia em relação ao preço, no
caso dos consumidores residenciais, não
parece ser relevante. Isso porque, embora os
consumidores sejam evidentemente sensíveis
às suas contas de luz no final do mês, no dia-a-
dia a função utilidade da maioria deles dá mais
peso ao bem-estar propiciado pelo consumo de
energia imediato do que ao seu custo
instantâneo.


Um dos caminhos para se possibilitar uma
maior resposta na curva de demanda de
energia dos consumidores é por meio da
tecnologia, de forma que os equipamentos
inteligentes tomem decisões de mudança de
consumo sem a necessidade de intervenção
direta dos usuários. Um exemplo da aplicação
desse tipo de tecnologia é justamente a
instalação de bancos de baterias nas
residências, que seriam carregadas nos
horários de menor preço, para que a energia
consumida nos horários de maior custo não
tenha que ser obtida da rede, mas sim do
próprio sistema de armazenamento. A boa
notícia é que esses sistemas estão cada vez
mais competitivos: segundo dados da
Bloomberg New Energy Finance, os custos das
baterias já caíram 87% nos últimos dez anos e,
segundo o National Renewable Energy
Laboratory dos EUA, a expectativa é que sigam
uma trajetória média de queda de 8,4% ao ano
na próxima década.


Uma análise considerando a evolução dos
custos de sistemas de armazenamento mostra
que, para os consumidores com uma curva de
carga residencial típica, já em 2023 será
economicamente atraente instalar baterias nas
áreas de concessão de distribuidoras como a
Cemar (Maranhão), Celpa (Pará) e Enel RJ


(interior do Rio de Janeiro), com uma taxa de
retorno acima de10% ao ano. A simulação
pressupõe o uso da modalidade tarifária
branca, com o carregamento dos sistemas de
baterias nos horários fora de ponta e a
utilização da energia armazenada nos horários
intermediário e de ponta.

Em 2025, a lista de distribuidoras em cujos
mercados a decisão será economicamente
atraente deverá incluir também a Coelba
(Bahia), Cemig (Minas Gerais) e RGE (interior
do Rio Grande do Sul) e, até o final da década,
a decisão será atrativa em todo o país. Vale
lembrar que essa análise nem incorpora o
eventual valor percebido pelos consumidores
do benefício da segurança de suprimento, ou
seja, o prêmio que os consumidores estariam
dispostos a pagar para ter energia em casa
sem risco de falhas, como é comum ocorrer em
dias chuvosos de verão.

Como resultado dessa viabilidade econômico-
financeira dos sistemas de baterias, devemos
começar a observar novos modelos de negócio
surgirem no curto prazo para desenvolverem
esse mercado. A expectativa, portanto, é que a
regulação setorial evolua no sentido de permitir
processos simplificados de conexão de
sistemas de armazenamento à rede, com
garantia de livre acesso aos sistemas de
transmissão e distribuição. Os instrumentos
regulatórios também precisam ser eficazes
para mitigar o risco de eventuais atitudes
anticompetitivas de abuso de posição
dominante de mercado pelas distribuidoras de
energia, uma vez que essas empresas poderão
ver seus mercados ameaçados pela tecnologia
à medida que os sistemas começarem a ser
implantados e, na condição de monopolistas de
suas áreas de concessão, poderão criar
resistências à tal implantação.

Uma regulação adequada poderá viabilizar a
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